Assim que desliguei o telemóvel fugiu-me das mãos
caindo em cima da cama aonde me encontrava sentada. Não sabia bem o que estava
a sentir, se era tristeza, fúria, mágoa, desilusão, talvez um pouco de tudo. O
chão estava a desabar aos poucos por debaixo dos meus pés e só queria acordar
daquele pesadelo. Queria acordar de novo e que nada daquilo fosse real. O meu
coração estava a partir-se aos poucos ficando cada vez mais fraco. A dor era
demasiado sufocante, doía-me a alma, fazia parar a minha respiração. Porque é
que ele me fizera aquilo depois de horas antes me ter dito que me amava. Se não
gostava de mim porque é que o disse? Porque é que me criou falsas esperanças,
porque é que me fez acreditar num amor que não iria resultar?
Eram demasiadas na minha cabeça e sem nenhuma
resposta plausível. Peguei de novo no telemóvel e a imagem de fundo só me fez
sofrer ainda mais. Tudo o que me dissera era mentira…uma simples mentira. A
minha vontade era de mandar com o telemóvel contra a parede e vê-lo a partir-se
em mil bocados mas não tinha forças para tal. Apenas o desliguei e guardei-o
dentro da mala.
- Mia, podes chegar-me…. – esfreguei de imediato os
olhos tentando disfarçar os meus olhos provavelmente inchados e vermelhos.
Tarefa impossível já que as lágrimas continuavam a não querer parar escorrer –
Mia! Que se passa? – vi-o chegar-se junto a mim apenas com umas calças de ganga
escuras vestidas e ainda com o cabelo molhado – o que é que aconteceu para
ficares assim? – recebi um abraço aconchegante por parte dele. Naquele momento
não conseguia dizer nada, nem uma única palavra. Ele compreendeu o meu silêncio
e puxou-me mais para ele acalmando-me. Ia limpar as lágrimas do meu rosto com
as costas das mãos mas ele não me deixou. – primeiro deita tudo cá para fora,
chora o que tiveres de chorar… - as palavras dele foram o suficiente para que
toda a dor dentro de mim saísse. As lágrimas eram o espelho da minha alma,
completamente desfragmentada.
- Foi o Harry… - sussurrei passado bastante tempo.
O Brian afastou-me dele o suficiente para me olhar, estava confuso sem perceber
o porquê de estar assim – …o Harry…o Harry tra…traiu-me… - dizê-lo em voz alta
ainda custava muito mais. Tornava o meu pesadelo bem real.
- Como é que sabes? – tinha-o apanhado
completamente de surpresa – Ainda não estiveste com ele hoje… - levantei-me com
algum custo e olhei de novo para ele
- Telefonei-lhe quando foste tomar banho e quem
atendeu foi a Colbie. – expliquei-lhe – Ela disse que o Harry ainda estava a
dormir e que a noite tinha sido muito cansativa…
- Pode não significar nada…
- Como não? Eu telefono ao meu namorado e quem
atende é a ex-namorada e ainda diz que ele está a dormir…queres que pense o
quê? – nem me tinha apercebido como a minha voz tinha subido de tom
- Calma… - disse rapidamente levantando-se – eu estou
aqui! – não sei quando tempo é que tive abraçada a ele mas também não queria
saber – Mia, não queria deixar-te aqui sozinha mas tenho mesmo que ir ter com a
equipa..
- Não te preocupes, fico bem… - esforcei para fazer
um sorriso mas sabia que era muito má em esconder sentimentos. Ele segurou a
minha face com as duas mãos fazendo-me olhar para ele
- Eu só vou porque sou mesmo obrigado a ir pois sei
que esse sorriso não é verdadeiro… - deu-me um beijo na face e depois de
repetir umas trezentas mil vezes que estaria sempre com o telemóvel e que
poderia ligar a qualquer hora foi-se embora. Ainda antes de sair repetiu mais
umas quantas vezes que me vinha buscar à hora de almoço. Assim que a porta se
fechou agarrei nas três almofadas que haviam em cima da cama puxei o édredon da
cama para trás e deitei-me na cama.
(Harry)
Acordei quando já passavam das onze horas. A noite
anterior tinha sido bastante divertida mas se a minha princesa estivesse ao meu
lado teria sido muito mais. Levantei-me ainda ensonado e fui ver por onde
andavam os rapazes.
- Bom dia mano! – o único que estava na sala era o
Louis e estava deitado no sofá por isso atirei-me para cima dele – preciso do
teu telemóvel, tenho que ligar à Mia. – não sei como o fiz mas perdi o
telemóvel. A meio da noite quando precisei dele já não o tinha no bolso das
minhas calças.
- Só mesmo tu para perderes o telemóvel… - enquanto
me empurrava para fora do sofá – já disseste ao Paul que o perdeste? – se o meu
telemóvel caísse nas mãos erradas de certeza que iriamos chocar as pessoas com
certos vídeos que lá tinha.
- Sim, pedi ao Liam para lhe ligar. Agora já me
podes emprestar o teu telemóvel? – ele deu-me o telemóvel e liguei de imediato
à Mia para ela não ficar preocupada se ligar para o meu telemóvel e não
atender. O estranho é que tinha o telemóvel desligado por isso decidi ligar à
Nicole – Nicole, a Mia? – perguntei assim que ela atendeu
- Bom dia para ti também! – resmungou. Esteve
alguns segundos em silencio como se estivesse a raciocinar – Ela não está em
casa, pensei que estivesse contigo… - disse por fim
- Não, ela não está comigo. A última vez que falei
com ela foi quando me disse que ia ficar com o Brian…
- Então não sei. – falou bocejando, pelos vistos
não tinha sido o único a acordar tarde – Quando ela chegar eu digo-te alguma
coisa agora deixa-me dormir!
- Que estranho. – disse assim que desliguei a
chamada mas nem tive muito tempo para pensar pois a campainha tocou. Depois de
uma discussão sobre quem se levantaria para ir abrir a porta acabei por
ganha-la e teve que ir o Louis – quem é? – perguntei levantando-me do chão.
Virei-me para a porta e de imediato sinto-me a ser projetado para trás com uma
dor no maxilar. – Mas que… - tinha acabado de levar um murro na cara – Brian?!
– prenunciei assim que o vi – Que te deu
meu? Estás louco? – ao mesmo tempo que levava a mão ao maxilar para averiguar
os estragos que tinha feito
- Eu avisei-te, magoavas a Mia e eu acabava
contigo. – não estava a perceber nada do que estava a dizer. Magoar a Mia?! –
Não penses que vais ficar a rir depois do que fizeste…
- Mas eu não… - ele queria voltar a dar-me um murro
mas o Louis não o deixava agarrando-o – não sei quem te meteu essas ideias
maradas na cabeça mas não fiz nada para magoar a Mia! – exclamei enquanto me
levantava
- Afasta-te dela! É o meu último aviso… – concluiu
depois de sair do controle do Louis. Dirigiu-se para a porta e saiu sem dizer
mais nada.
- Que raio se passou aqui?! – perguntou o Louis
ainda em choque com o que acabara de acontecer – Primeiro o escândalo que fez a
Colbie no bar quando lhe destes com os pés e hoje o Brian com uma história
ainda mais estranha…
- Agora é que tenho mesmo que falar com a Mia…
(Mia)
O Brian voltou a aparecer pouco antes da hora de almoço
e vinha com vontade de me tirar da cama. Fiz a minha pior cara assim que me
tirou a almofada que utilizava para esconder a cara, resmunguei e até recorri
ao “beicinho”. Nada, nada resultou. Agarrou-me pela mão e tirou-me do meio dos
lençóis brancos para finalmente sair daquele quarto. Depois de o ver fechar a
porta do quarto, colocou um dos braços em redor dos meus ombros como que me
protegendo e não disse nem uma palavra. Não queria falar e ele conhecia-me
bastante bem para saber que não gostava que me pressionassem. À saída do hotel
já estava um táxi à espera. Não perguntei para onde me levava, sinceramente,
também não queria saber. Reparei apenas num saco no interior do táxi,
provavelmente o nosso almoço. Encostei a minha cabeça ao ombro do Brian e
fechei os olhos.
(…)
- Hum…onde é que estamos? – perguntei ainda meia
espavorida depois de sentir alguém a abanar. Era o Brian. Saí do táxi com a
ajuda dele e quando olhei em redor não reconhecia o local. O céu estava escuro
e depois de ver o táxi a ir embora só via uma praia. Não uma praia como as que
via em São Francisco, esta tinha imensas rochas e a areia estava molhada por
causa da chuva que caíra. As ondas do mar estavam bastante fortes por isso
mesmo que quiséssemos não poderíamos dar um mergulho. – Praia com este tempo?
- O meu objectivo também não era que fosses dar um
mergulho – fiquei com cara do tipo “então o que estamos aqui a fazer” – tinha
que fazer alguma coisa para te animar e tirar-te daquele quarto. Por isso
pensei no que é que faria se estivéssemos em São Francisco, e logo me surgiu a
praia. Não faço ideia de onde nos encontramos, só pedi para nos levar para a
praia deserta mais próxima. Ainda andamos um bom bocado de carro…
- Tu não existes mesmo… - enquanto lhe dava um
forte abraço – obrigada! – encaminhamo-nos para a praia e assim que senti a
areia molhada em contacto com a pele do pé uma sensação de liberdade
inigualável.
(…)
- Vamos fazer um castelo na areia… - eu não estava
a comer nada mas engasguei-me à mesma – vai ser divertido! Fingimos que somos
criancinhas… - não sei como o fazia mas tinha sempre ideias mirabolantes
- Tu não precisas de o fingir, já o és! – ele fez
uma cara de indignado mas não desistiu da sua ideia disparatada. Foi para a
minha frente e começou a amontoar areia – Brian, isto é ridículo…
- Queres que faça um castelo com quatro torres? –
perguntou-me ignorando por completo o facto de ter dito que aquilo era ridículo
– eu sei que sou um construtor de castelos de areia muito competente mas se
quiseres dar uma ajudinha, será bem-vinda! – não tinha palavras para o negar,
ele conseguia sempre levar-me no seu jeito despreocupado, acriançado e
divertido. Na forma como as suas palavras soavam doces no meu coração.
- Eu não acredito que vou fazer isto… - suspirei
enquanto me punha de joelhos na areia chegando-me junto do início que seria a
nossa obra-prima – vamos lá construir este castelo encantado… - enquanto
enfiava as minhas mãos na areia, ele olhou para mim com um sorriso rasgado e
sorri de volta.
(…)
- Não é para me gabar mas sou um construtor de
castelos magnifico. Devia deixar o surf e dedicar-me a isto – dei-lhe uma leve
chapada na cabeça com a tamanha barbaridade que acabara de dizer e ele riu-se.
Ambos concordávamos que aquilo estava mais que péssimo, também não se podia
pedir mais já que não tínhamos instrumentos nenhuns para nos ajudar a moldar –
vá, sejamos sinceros, não está assim tão mau. Esta torre parece-me minimamente
direita! – olhei seriamente para ele – ok, está tudo péssimo…
- Vou tirar uma fotografia da nossa obra-prima… -
informei-o enquanto ia buscar a minha máquina à mala. Tinha a minha roupa toda
húmida e suja por causa da areia molhada. Apontei a máquina para o famoso
castelo – e pronto. Está gravado um momento vergonhoso das nossas vidas… -
dei-lhe a máquina para ele ver e depois devolveu-ma
- Agora queres saltar para cima e desmanchar tudo?
– falou divertido com a ideia de enfiar os pés mesmo em cima das torres.
- Achas?! Pode estar horrível mas deu muito
trabalho. Nem pensar em desmanchar. – avisei, afastando-o da construção
- Isto não vai durar para todo o sempre não sabes?
– por momentos tinha-me esquecido por completo o porquê de estar ali mas com
aquela pergunta, o Harry voltou a aparecer na minha mente. O problema não
desaparecera nem muito menos a dor, apenas estava guardado.
- Sei… - falei olhando fixamente para aquela
construção desastrosa. Era exactamente assim que se encontrava a minha vida, um
verdadeiro caos. – infelizmente sei que nem tudo dura para sempre.
- Desculpa, não queria… - apressou-se de imediato a
dizer assim que viu a minha expressão a entristecer – …não queria falar no
assunto.
- Deixa estar. – deixando fugir um pequeno sorriso
para o tranquilizar – Esta também não era a minha história de amor… - ele não
disse nada. Finalmente tinha ganho coragem para ligar o telemóvel de novo.
Espantei-me com as muitas chamadas não atendidas do Louis, outras quantas de
todos os rapazes e da Nicole e até duas do Paul mas nem uma do Harry. Não sabia
como era possível a dor aumentar ainda mais, não aguentava aquilo por mais
tempo. – Não tenho nenhuma chamada do Harry… - a minha voz transmitia por
completo todo o meu sofrimento
- Por falar nisso, tenho uma coisa para te dizer. –
olhei para ele dando-lhe sinal para continuar – Passei pela casa do Harry antes
de te ir buscar, não me controlei e acabei por lhe dar um murro… - disse
bastante rápido – Pronto, desculpa mas não consegui aguentar.
- Tu sabes o que penso disso… - a violência nunca
era solução para resolver os problemas e não gostava nada que o fizessem.
- Ele não podia continuar a fazer a vida dele como
se nada fosse! Sei que não o devia ter feito mas ele também não podia ter-te
magoado…
- O que está feito, está feito. Agora já não podes
fazer nada… - suspirei – preciso de falar com a Nicole…