quinta-feira, 27 de junho de 2013

64º Capítulo - "Tudo começou para nunca mais acabar" Parte I



 
Aqui está um novo capítulo, eu dividi em dois porque se fosse só num ficava para lá de enorme. Bem este é um bocadinho triste e gostaria que lessem com esta música https://www.youtube.com/watch?v=HCZY_N3UYf0 
Só para avisar que a história está mesmo a chegar ao fim por isso deixem o vosso comentário, é muito importante para mim!

beiinhos

[Mia]

Puff. E o meu mundo todo se desmorona à minha frente sem eu poder fazer nada. O meu chão esfumou-se de um momento para o outro. E tudo o que menos queria que acontecesse, aconteceu. Novamente estava a enfrentar o mesmo dilema do que há três anos e o medo continuava lá, a insegurança também e tudo num nível de ansiedade altíssimo. Ainda não tinha forças para enfrentar os meus medos e estava pronta para ser derrotada num abrir e fechar olhos.

- Entraste! Isto é fantástico… - surpreendi-me como a felicidade que irradiava por toda a sua face. Ele não podia estar a falar seriamente, isto não era fantástico. Era um verdadeiro desastre – Mia é perfeito! Estás entre os cinco melhores… - queria falar alguma coisa mas não conseguia, a garganta estava seca, o ar não circulava sobre o meu corpo. Estava paralisada enquanto o Harry continuava a resplandecer alegria – Foste a quarta a entrar. Eu sempre soube que tinhas um talento enorme mas agora está comprovado pelos entendidos da matéria. – as palavras entravam pelo meu ouvido mas era como se não as tivesse ouvido, estava noutro mundo diferente. – Princesa, estou mais do que orgulhoso de ti… - as mãos dele vieram ao encontro da minha face, acariciando-a mas não me estava a sentir mais confortável por isso. Num espaço de segundos os lábios dele tocaram nos meus e eu apenas fiquei estática. Estava em pânico. Estava com medo. Ele tentou aprofundar o beijo mas não me mexi os meus lábios e foi então que as lágrimas começaram a escorrer pelo rosto sem parar. O Harry separou-se de mim o suficiente para ver os meus olhos quando vi que não respondi ao seu beijo e surpreendeu-se ao ver-me chorar.

Mia…não chores. – as palavras saíram num sussurro e soube de imediato que ele estava com medo da minha reação. – Eu estou aqui. Isto não é o fim, é apenas o começo de uma nova etapa. Confia em mim, não te vou deixar. – Eu confiava nele só não confiava em mim, nos meus medos. Tudo estava a acontecer de novo. E eu sabia que ia quebrar como há três anos quando cheguei a casa e vi as malas todas à porta. – Amor, olha para mim. – um arrepio gélido percorreu as minhas costas assim que ouvi a voz de Harry. Mas não conseguia olhar para ele, se o fizesse era só a certeza em como o meu mundo tinha-se partido em mil bocadinhos. – Olha para mim… - todo o meu corpo começou a tremer e não era de frio. O nó no estomago era cada vez mais forte e não parecia que ia sair tão cedo. – por favor… - de novo a voz sussurrante de Harry. Bolas, eu não conseguia dizer que não.

Levantei o rosto lentamente, tão lentamente como pude até encontrar o rosto bonito do Harry. As lágrimas voltaram à carga ainda mais impiedosas do que antes assim que os olhos de pânico e de preocupação dele. Não. Não suportava vê-lo assim ainda mais por mim. Eu devia trazer alegria aos seus olhos não tristeza. Senti-me a desabar sobre esses pensamentos. Provavelmente não estaríamos destinados e esta era só mais uma prova disso mesmo.     

Toda a minha tristeza brotou pelos meus olhos e o meu choro tornou-se mais audível e com mais soluços. Apenas senti os braços do Harry a envolverem-me num abraço forte mas por alguma razão não me sentia melhor. Tornava a dor ainda maior. Ele pressionava-me contra o corpo dele passando a mão direita para cima e para baixo nas minhas costas. – Isto vai resultar. O nosso amor vai resultar, confia em mim. Por favor, Mia… - sentia-me cada vez mais vulnerável e sem forças para nada. Toda a energia do meu corpo estava a evaporar-se rapidamente. Nem conseguia colocar os meus braços em redor do corpo do Harry. Havia uma barreira a separar-nos e eu não a conseguia desfazer.

- Fala alguma coisa Mia. Fala comigo… - as palavras do Harry pareciam que estavam a bloquear a minha mente cada vez mais em vez de me libertarem. Estava a entrar numa espirar de pensamentos negativos aos quais sabia que provavelmente nunca mais iria sair. – Reage! Bate-me, grita. Mas por favor, faz alguma coisa! – o medo já me tinha petrificado e era como se estivesse congelada no tempo. “Aceite” era a única coisa que pairava sobre os meus pensamentos – Eu amo-te Mia. Não me deixes…

Os meus olhos abriram-se como se estivesse estado com eles fechados e aquelas doces palavras aqueceram o meu coração. Tratava-se quase de um choque eléctrico que atingira o meu corpo e pôs todos os meus órgãos vitais a funcionar. Estava de novo a respirar. Impulsionei-me contra ele abraçando-o mas a dor continuava lá. Eu amava o Harry e era isso que me estava a matar aos poucos. Não conseguia lidar com a distância nem conseguia lidar com o meu maior sonho de entrar naquela faculdade. Porque é que as duas coisas que mais amavam não conseguiam ser compatíveis? Não queria escolher entre o Harry e o meu sonho. Porque não sou capaz de acreditar que o amor pode sobreviver à distância?

As imagens do meu avô subitamente invadiram a minha mente e um sufoco atingiu o meu coração. Ele partiu sem me poder despedir porque estávamos em países diferentes. Apenas nos víamos duas vezes por ano e essa mágoa não era capaz de ultrapassar. Se eu estivesse com ele saberia que não estava bem e assim estaria sempre com ele. E se alguma coisa acontecer ao Harry quando estiver lá? Não sou capaz de viver com isso, com essa incerteza.

O Harry afastou-me lentamente dele até que tivesse a visão perfeita do meu rosto. O olhar dele continuava preocupado mas um pouco menos ansioso talvez pelo meu acto impulsivo de o abraçar. Desviou uma mecha de cabelo que se encontrava à frente da minha cara e com a ponta dos dedos deslizou pela minha face até aos meus lábios. Em camara lenta baixou a cabeça na minha direcção. Aos poucos fui sentindo a sua respiração fragmentada a confundir-se com a minha. Eu sabia que ele me iria beijar mas não sabia se estava psicologicamente preparada para isso. O nariz dele roçou no meu mas no último segundo afastei-me antes que ele me pudesse beijar. Estava confusa.

A expressão dele era mais do que dolorosa de se ver assim que me afastei dele e o meu coração despedaçou-se em mil e um bocados ao ver os seus olhos lacrimejantes. Ver o Harry chorar era o meu pior pesadelo. – Não, Mia. Não me afastes de ti… - não sabia o que dizer. Toda aquela situação era demais para mim, estava a levar-me a níveis emocionais que nunca tinha estado. Dei um passo para trás assim que ele deu um passo na minha direcção e agora tinha a certeza. Ele estava em pânico. – Amor, tens de me dizer o que vai na tua cabeça porque neste momento estou demasiado em pânico para entender o que o teu olhar diz. – apesar da voz dele soar calma sabia que ele estava tudo menos calmo. Inspirei fortemente e quando ia abrir a boca para falar não saía voz nenhuma. Voltei a respirar fundo e desta vez a minha fraca voz ouviu-se.

- Estou…com…medo. – disse com a minha voz num estado miserável. Desta vez não tentou aproximar-se de mim e continuou na mesma posição. Passou a mão pelo seu cabelo meio encaracolado e pude observar como a pulseira que lhe tinha dado brilhava magnificamente ao sol. Aquela pulseira significava a nossa segunda oportunidade mas naquele momento já não sabia se era possível. Eu já não sabia nada.

- Eu também estou com medo, Mia. – admitiu serenamente conservando-se no mesmo local. Sabia que ele estava ansioso por me envolver com os seus braços e me beijar mas contra toda a sua vontade manteve-se quieto, sem me tocar.

- Preciso de ficar sozinha. – sussurrei. Sim, precisava de ficar sozinha de pensar no que havia de fazer a seguir. Nunca na minha vida tinha pensado que sequer iria entrar quanto mais saber o que fazer neste momento. Nem fui eu que me candidatei.  

- Não, Mia. Eu não te vou deixar sozinha. – a expressão de Harry era dolorosa para mim. Estava a fazer sofrer a pessoa que amava e não conseguia fazer nada para o parar.

- Neste momento não consigo lidar com isto contigo a olhar-me desse jeito… - ele deu um passo para trás e por mais estranho que pareça senti um ponta de alívio. As enormes mãos dele passaram pelo cabelo encaracolado tirando-o da frente da testa. Ele estava com aquela cara de que estava a ficar sem opções e eu sabia de antemão que isso o deixava bastante irritado.

- Consegues sim. – afirmou por fim depois de alguns segundos – Por favor, não me afastes de ti. Eu amo-te… - eu estava de novo a chorar, era muita pressão para uma noticia que tinha acabado de descobrir.

- Estás a pressionar-me, Harry. – sussurrei já que não tinha forças para falar mais alto do que aquilo.

- Se eu te deixar sozinha sei que nunca mais te vou ver.

E esta era a frase que mais temia. O passado não se apaga e por mais que ele me tenha perdoado pela forma cruel que o informei que me tinha mudado de país, eu sei que quando a situação se descontrola, ele tem medo que o volte a fazer. Como se diz, quem faz uma vez também o pode fazer uma segunda ou uma terceira. E apesar de tudo, tenho que me mentalizar que irá ser sempre assim. E foi então que me apercebi de uma coisa, ainda não me tinha perdoado a mim mesma. Tinha recebido o perdão do Harry mas ainda não me tinha perdoado pelo que tinha feito.

Este era o obstáculo. Este era a muralha que estava erguida ali mesmo, entre mim e o Harry. O problema não estava em nunca ter acreditado no amor à distancia, não tinha nada a ver com o pouco tempo que teríamos para estar juntos. Nada disso. Tudo se resumia exclusivamente ao simples facto de ainda não me ter perdoado. Pela primeira vez percebi os meus sentimentos mais profundos, aqueles que estavam guardados a sete chaves bem lá no fundo do coração. Achava que não era merecedora do amor do Harry, de tudo o que ele fez por mim depois do que fizera. Eu não merecia o Harry.

- É isso que pensas? Que te vou deixar? – a minha voz saiu completamente tremida tal e qual como era o medo de conhecer a resposta.

- Eu não sei, Mia! Eu simplesmente não quero que o faças porque se o fizeres significa que vivi este tempo todo num rol de mentiras. – um enorme sinal sonoro soou na minha cabeça. Não, o que sentia por ele era verdadeiro. Eu o amava, apenas não era merecedora do amor dele.

- Não é nenhuma mentira…

- Então porque queres estar sozinha? Tu sabes o quanto isso me deixa inseguro… - queria abrir a boca para dizer que o amava mas por alguma razão não o consegui e deixei-me ficar no silêncio. Um silêncio desconfortável, aquele silêncio que nos mata lentamente e dolorosamente deixando-nos aos poucos sem ar. – Ok, desisto. Neste momento parece que sou o único que está a lutar por esta relação. Estou farto de tentar entender o que vai na tua cabeça! Vou facilitar o teu trabalho. Já não tens nada que te prenda aqui…

Tudo ficou escuro à minha volta assim que o vi virar costas tão rapidamente como ele falou. E agora sim, o meu pior pesadelo tinha-se tornado realidade.

***

Não sei quanto tempo fico ali parada exactamente no mesmo local sem me mover. Só me lembro de acordar novamente para a realidade com a chegada da Nicole ao meu lado. Ela colocou um braço por cima do meu ombro cautelosamente para perceber qual seria a minha reação. Como não fiz nada ela colocou o outro braço em redor de mim e abraçou-me. E novamente desfiz-me em lágrimas.

Quando fiquei mais calma ela olhou para mim e já sabia que vinha sermão. Aquele olhar não enganava ninguém.

- Juro que no momento em que vi o Harry entrar na sala de espera novamente, pensei que tinhas tido algum acidente ao algo parecido. Ele vinha destroçado. – ouvia suspirar mas o meu coração simplesmente já não funcionava mais – Quando ele contou o que aconteceu depois de o ter ameaçado umas quinhentas vezes, o meu primeiro pensamento foi: vou matar a Mia. Eu não estou do lado de nenhum dos dois mas, bolas Mia, é a segunda vez que deixas o rapaz à beira do precipício. – novamente uma pausa - Não sei do que estavas à espera depois da tua atitude. Eu sei que os filmes da Disney são muito bonitos e que todos têm finais felizes mas acredita, a realidade também os tem. O amor é mágico mas ainda não é como a Disney. O amor trás com ela alegria mas também tristeza, trás obstáculos mas também felicidade. Por vezes tem sofrimento na maior das felicidades, tem solidão acompanha e até trás dificuldades que conseguem tornar tudo mais fácil. Mia, tu é que estás a complicar tudo. Ele ama-te como tu e mais difícil do que ser forte é desistir de quem amas. E tu desististe mesmo depois de ele ter corrido atrás de ti, mesmo depois de ele te ter perdoado. Tu sabes melhor que ninguém que o vosso amor poderia resultar, o amor tem essa particularidade, quando é verdadeiro vence tudo. Lembraste das tuas promessas? Do que significa essa pulseira que trazes ao pulso? Para o Harry, neste momento tudo isso não passam de mentiras, neste momento está pior do que miserável. Tudo isso porque estás a ser dura demais para contigo e estás sem te aperceber, a magoares o Harry. O que ele deve estar a sentir, tenho a certeza que é dez vezes pior do que estás a sofrer. Agora para terminar, tu sabes que o Harry é o único rapaz com quem podes ser realmente feliz, não destruas tudo isso. Sempre pensei que ele fosse motivo suficiente para tu moveres meio mundo só para o fazeres feliz. Pensa nisso.

Ela levantou-se deixando-me de novo sozinha. E eu continuava sem saber o que fazer!

domingo, 16 de junho de 2013

63º Capítulo - "A tão esperada resposta..."



Desculpem pela demora mas por causa dos exames e porque fiquei sem internet durante alguns dias impossibilitou-me de postar mais cedo. Infelizmente a minha inspiração também não está boa e acho que este capitulo não ficou como queria. Sinceramente não ficou grande coisa.
Mas fico à espera dos vossos comentários e das vossas opiniões. São muito importantes para mim...

Obrigada

 

[Harry]

Já tinha perdido a esperança de naquela noite conseguir pregar olho e dormir descansado. Não estava, de todo, a ser uma boa noite por causa da Mia estar sempre a mexer-se na cama. A cama só por si já era pequena para duas pessoas então com ela sempre mover-se tornava-se complicado. Ao início achei que era algo normal pois ela sempre deu um péssimo dormir mas após algum tempo aqueles movimentos deixaram de ser normal principalmente quando vinham acompanhados por alguns gemidos. Virei-me um pouco para o lado em direcção à mesinha de cabeceira para poder acender a luz fraca do candeeiro. Tive que fechar os olhos rapidamente assim que ficaram sensíveis à luz.

Esqueci de novo essa preocupação assim que ouvi um grito mais prenunciado e audível. O meu coração apertou assim que vi o rosto de Mia transformado numa expressão de dor.

- Mia, acorda! Mia… - chamei por ela enquanto as minhas mãos foram ao encontro dos ombros dela no intuito de abana-la trazendo-a de volta à realidade – Mia… - aos poucos a expressão de angustia foi desaparecendo sem a fazer acordar.

Continuava de olhos fechados e pareceu entrar finalmente num sono tranquilo. Respirei fundo e foi aí que percebi que tinha estado todo este tempo a prender a respiração. Todo o ar foi saindo estabilizando a minha respiração. Algo escorreu pela minha face, uma gota de suor desceu desde a minha testa até abandonar a minha cara. Estava cansado e com bastante calor. Afastei a coberta que me cobria para além do lençol com cuidado para não descobrir a Mia e deitei-me aconchegando o meu corpo ao do dela. Era a única maneira que tinha para lhe demonstrar que estava bem junto a ela. Sorri tranquilamente após sentir o corpo dela aninhar-se com o meu. A Mia tinha-me sentido, tinha a certeza. Eu era o seu porto de abrigo e isso deixava-me incrivelmente feliz.

Sonha comigo… - pedi silenciosamente antes de plantar um pequeno beijo na têmpora dela. Fechei os olhos tentando finalmente descansar alguma coisa. Amanhã seria um dia bastante comprido.    

(…)

O som da campainha fez-me acordar do meu belo sono. Mas quem é que será a estas horas? Praticamente ninguém sabia que a casa estava ocupada por estes dias por isso, quem quer que fosse, tinha que ser alguém próximo. O som insistente tornou-se mais duradouro mas nem mesmo todo esse barulho fez com que Mia se movesse nem um milímetro da cama. Soltei um sorriso ao ver que as minhas pernas estavam enroladas em torno das pernas da Mia. Deixei um beijo perto dos seus lábios antes de retirar o corpo daquele quentinho para ir ver tocava à porta.

Cada vez tocavam mais insistentemente o que apenas significava uma coisa. Era grave. Desci as escadas rapidamente e deparei-me com a ultima pessoa que esperava ver ali assim que abri a porta. A minha mãe. O meu coração parou brevemente ao vislumbrar os seus olhos vermelhos e inchados. Algo não estava bem.

- Mãe… - prenunciei com a voz cortada. O silencio da minha mãe foi ensurdecedor e foi como se milhares de facas tivessem atacado o meu coração. Lágrimas escorriam pelo seu rosto deixando tudo à minha ruir aos poucos. Não sabia o que fazer e muito menos sabia o que se estava a passar. Ela abraçou-me antes de entrar e se sentar comigo no sofá da sala. E novamente começou a chorar no meu ombro abraçada a mim. Apertei-a ainda mais contra mim assim que comecei a sentir algo a queimar os meus olhos. Estava prestes a começar a chorar sem saber muito bem a razão. Ver a minha mãe naquele estado era motivo suficiente. – Mãe… - pedi. Precisava de saber o que se estava a passar antes que pudesse dizer que tudo ia ficar bem. – O que se passa? Aconteceu alguma coisa ao pai? À Gemma? – o olhar da minha mãe dizia tudo e agora um sentimento de pânico começou a circular por todo o meu corpo deixando-me com as mãos trémulas e com a respiração cortada – Mãe diz-me que está tudo bem com eles, por favor… - a voz saiu-me em suplica mais do que pretendia.

- A Gemma…a tua irmã…ela… - o silêncio de palavras voltou-se a ouvir enquanto soluços derivados ao choro inundava a sala. Tudo dentro de mim petrificou-se levando-me ao pior dos cenários. O cenário que não podia nem conseguia imaginar. Fechei os olhos e envolvi-a de novo com os meus braços. Agora começava a chorar. – Ela está no hospital… - disse após alguns minutos que me pareceram eternidades – sofreu um acidente de carro quando estava a vir para casa. – continuou – Aparentemente está livre de perigo mas ainda é muito cedo para terem a certeza. – senti algum alivio porque o pior cenário estava longe mas ainda assim continuava a tremer. Perguntas pairavam pela minha cabeça. Como, porquê, onde… Era tudo demasiado confuso. Era tudo demasiado…demasiado.

- Quero vê-la! – disse num impulso. – Preciso de estar com ela para ter a certeza que tudo vai ficar bem. – Ela apenas assentiu com a cabeça e eu abracei-a de novo como se tivesse medo que lhe acontecesse também alguma coisa. O abraço só foi desfeito assim que ouvi o barulho de alguém a descer as escadas. Virei a cabeça e encontrei uma visão do paraíso.

A Mia trazia apenas a minha t-shirt branca vestida que lhe dava um pouco abaixo das coxas. Era definitivamente uma visão de anjo. A cor um pouco rosada foi-lhe aparecendo no rosto enquanto puxava as pontas da t-shirt para baixo. Não estava de todo à espera de encontrar ali a minha mãe. O olhar modificou-se assim que deu conta das minhas lágrimas não enxugadas.

- Harry? – vi preocupação nos seus olhos, vi como escureceram. Um aperto maior no coração se manifestou, não a conseguia ver preocupada, não conseguia ver tristeza nos seus olhos. Era demasiado doloroso.

- Mia… - antes que tivesse tempo de dizer seja o que for, a minha mãe levantou-se e foi ao encontro da Mia. Arregalei os olhos ao vê-la a abraçar a Mia tão espontaneamente. Finalmente a minha mãe deixou os ressentimentos todos de lado e isso deixou-me contente. A última coisa que queria era que houvesse algum mau estar entre as duas.

Estava tão absorvido nos meus pensamentos que nem dei pela Mia chegar junto a mim. Retirou as minhas mãos que repousavam sobre as minhas pernas e sentou-se ao meu colo. Prendi a respiração ao sentir as suas mãos macias a afastarem o meu cabelo da frente dos olhos. Os lábios dela tocaram na minha testa fazendo-me soltar o ar que tinha prendido.        

- Vai tudo ficar bem…tenho a certeza. – murmurou envolvendo-me num forte abraço. Os meus braços rodearam de imediato o corpo dela minimizando ao máximo o espaço entre nós. E tudo pareceu-me melhor. Tudo parece-me sempre melhor sempre quando estou agarrado à Mia. Tudo parece melhor quando tenho o meu mundo bem junto a mim – Amo-te… - confidenciou-me junto ao meu ouvido como se fosse o seu maior segredo. Retirou os braços do meu redor e levantou-se – Anne, deixe-me só vestir. Cinco minutos apenas antes de irmos para o hospital.

- Claro que sim, Mia. – respondeu a minha mãe. – Ela não está sozinha, o pai dela já chegou juntamente com o Robin por isso não te preocupes. – apesar de já ter dito ao meu pai sobre a existência da Mia, ele ainda não a conhecia. Nunca chegou a haver uma oportunidade, nem há três anos nem agora. Pelo menos até hoje. Devia ter havido uma oportunidade e não nestas condições.

O meu olhar percorreu o movimento da Mia a desaparecer pela porta para subir as escadas e também me apercebi que estava apenas de boxers. Também tinha que me mudar. Dei um beijo à minha mãe antes de subir e encontrar a Mia na casa de banho. Bati na porta antes de colocar a mão no puxador.

- Entra… - exerci pressão sobre o puxador e abri a porta. A Mia já se encontrava vestida o que me surpreendeu. Menos de dois minutos, era sem dúvida um record. A escova passava pelo seu cabelo assim que abri a porta. Ela era linda. E a cada dia que passava tinha cada vez mais certeza disso. Não tencionava perdê-la para nada nem ninguém. – Já estou praticamente pronta… - coloquei as minhas mãos na cintura dela fazendo-a girar sobre si própria, interrompendo o seu raciocínio. E abracei-a. Não sei se foi por causa da presença da minha mãe à pouco lá em baixo mas precisava de o fazer novamente. Ouvi apenas o barulho da escova do cabelo a embater no chão antes de a elevar um pouco no ar. Precisava de a sentir junto a mim sem nenhum espaço a separar-nos. – Estou aqui. Não tenho intenções de ir a lado nenhum senão estar contigo… - as palavras dela tinham sempre o condão de me acalmar, a voz suave dela conseguia sempre tranquilizar-me. Senti uma das mãos dela a envolverem o meu cabelo por entre os dedos. Eu adorava que ela o fizesse, todo o meu corpo relaxou quase que imediatamente. Estar abraçado assim com ela era, sem dúvida, o meu porto de segurança-

- Eu sei…Eu só precisava de… - as palavras não saiam da boca. Não conseguia explicar por palavras o quanto necessitava daqueles abraços e não só, de tudo o que a Mia me pudesse dar. Ela afastou-se de mim de modo a que pudesse ver os seus magníficos olhos que me provocavam aquele friozinho na barriga. As mãos dela envolveram a minha face obrigando-me a concentrar-me nela.

- Eu também precisava. – respondeu. Um sorriso apareceu nos meus lábios de imediato. Ela compreendia-me mesmo sem precisar de o expressar por palavras e isso era mais do que perfeito. Os lábios dela tocaram nos meus dando inicio a um beijo cheio de sentimentos.
     
***

Desci as escadas já pronto para irmos e em vez de encontrar a minha mãe com a Mia como era de supor estava apenas a minha mãe sozinha na sala. Por incrível que pareça consegui despachar-me rapidamente.

- A Mia? – perguntei à minha mãe depois de espreitar para a cozinha e para a sala e não a encontrar em lado nenhum.

- Ela foi lá fora ao jardim para atender uma chamada. Disse que era importante… - ao início não associei de imediato à sua entrada na faculdade de fotografia mas rapidamente a realidade se abateu sobre mim. Movi-me em direcção à porta que dava ao jardim que estava aberta mas antes de pisar a relva que cobria o piso exterior, a voz da Mia travou-me.

- …mas eu estou mesmo em pânico. Tu sabes que nunca fui muito boa com as palavras e sinceramente não sei o que dizer. As minhas frases não têm mais de três quatro palavras. – ela estava de um lado para o outro no jardim com o telemóvel na mão.  
­ 
. Oh, tu sabes sempre o que dizer, Mia. – ouvir a voz do Brian a sair através do telemóvel dela teve o condão de provocar ciúmes em mim. Apesar de saber que se trata apenas de um amigo, não o consigo evitar. Se formos fazer as contas, ele terá passado mais tempo com a Mia do que eu.   O Harry também não está á espera que lhe recites um testamento sobre o que está a acontecer. Apenas te quer ao lado dele e isso é o suficiente. Não penses demasiado nas coisas, olha que essa cabecinha ainda entra em curto-circuito. E isso é um crime. – ela sentou-se no banco e apoiou a cabeça nas mãos.

- Parece que a qualquer momento vou chorar. E eu não posso chorar, tenho que ser forte, por ele, como ele foi comigo. – queria passar aquela porta e dizer-lhe que estava a ser muito parva por estar a pensar daquela forma. Não queria que fosse perfeita, queria que apenas fosse ela. A minha Mia.

- Estás a exigir demasiado de ti, Mia. Eu gostava de te dizer alguma coisa perfeitamente idiota mas não consigo pensar em nada neste momento.- a Mia não disse nada preferindo o silêncio – …Hamm…

- Diz…dá para ver que queres dizer-me alguma coisa.

- Eu fui ao site da faculdade para saber se tinhas entrado ou não. – não sei se foi impressão minha mas acho que nesse momento tudo à minha volta parou simplesmente, incluindo o meu coração – Eu vi que… - Eu queria saber já? Sinceramente estava tanta coisa na cabeça naquele momento que nem sabia o que queria.

- Não quero saber, Brian. Não por enquanto. Só quando tiver a certeza que a Gemma está livre de perigo e que está bem. Depois… - o nosso olhar encontrou-se assim que ela moveu a cabeça em direcção à entrada. – Brian, tenho que desligar. Depois falo contigo… - a Mia rapidamente se levantou e veio até mim colocando o telemóvel no bolso das calças – Vamos? Eu conduzo… - nem me tinha apercebido que tinha as chaves do carro na mão até ela as tirar. Notei que ela sabia que tinha ouvido a conversa mas não queria falar sobre o assunto. Sinceramente, não sei se também queria conversar sobre isso. Acima de tudo não queria discutir com ela, não neste momento. – Prometo que o carro não vai ter nem um único risco.     

***

Lembrava-me vagamente daquele hospital, a última vez que lá tivera tinha sido por causa da Mia. Ela e as aulas de educação física definitivamente não era uma boa combinação, acabava sempre nalgum desastre. Parecia estar tudo exactamente igual como me lembrava. A minha mãe ia à frente e depois de passar por um corredor de paredes brancas com macas de cada lado entramos na sala de espera. Já lá estava o meu pai e o meu padrasto.   

- Já há novidades da Gemma? – foi a primeira coisa que disse, que era a minha principal preocupação. – Como ela está?

- O médico saiu daqui há uns quinze minutos. Ele disse que ela está bem e que já está fora de perigo, graças a Deus. Vai apenas ficar mais um dia aqui por precaução e para terem a certeza que não há mazelas. – Um alivio saiu do meu corpo trazendo tranquilidade. Ela estava bem.

- Podemos vê-la? – perguntou a minha mãe. O meu padrasto disse que sim e a minha mãe foi em primeiro lugar.

Aproveitei esse momento para apresentar a Mia ao meu pai e apesar de não ter gostado de ter demorado tanto tempo a apresenta-la, só a elogiou. Era impossível alguém não gostar da Mia.

***

Os rapazes juntamente com a Nicole chegaram pouco tempo depois de ter vindo do quarto da Gemma. Estava muito mais descansado depois de ter falado com ela e ter tido a certeza que estava tudo bem com ela. Apenas tinha algumas nódoas negras nos braços mas nada permanente e isso era o mais importante. Como não tinha lugar ao lado da Mia sentei-me ao lado do meu padrasto. O meu coração continuava irrequieto apesar de mais tranquilo. E isso só se devia a uma coisa: ainda não saber a resposta da candidatura da Mia.

A Mia estava sentada ao lado da Nicole mas não falava com ela. A Nicole tentava falar com ela mas parecia que estava noutro mundo. E eu já não aguentava mais aquela espera. Precisava de saber qual era o resultado daquela candidatura antes que me desse um ataque cardíaco. Respirei fundo e levantei-me de seguida da cadeira. Assim que cheguei junto dela estiquei a minha mão.

- Anda comigo… - apesar de não entender para onde queria que ela fosse, tomou a minha mão e levantou-se. Levei-a para o exterior do hospital para um local mais escondido e não tão movimentado.

- O que estamos aqui a fazer? – peguei no meu telemóvel e dei-lhe para a mão. Ela franziu o nariz não entendendo o porquê daquilo. – Para que quero o teu telemóvel? Tenho o meu…Sei que não é o modelo mais recente como o teu mas serve perfeitamente para falar contigo…

- Vai ao teu e-mail e vê se entraste na faculdade. – a sua expressão mudou rapidamente para algo parecido com o pânico. Acho que era parecida com a minha, aliás, tenho a certeza.

- Harry… - a voz dela saiu completamente entrecortada e quase num sussurro.

- Mia, esta espera está a matar-me. Eu preciso de saber já para me começar a mentalizar se te vou ter durante três anos um oceano a separar-nos. E eu conheço-te e se perfeitamente que também queres saber… - a Mia puxou o lábio inferior com os dentes antes de abanar afirmativamente com a cabeça.

- Por favor, seja qual for o resultado desta candidatura, nada mas nada vai mudar entre nós. Promete-me…

- Prometo. – Pus-me ao seu lado enquanto via os seus dedos a percorrer o ecrã táctil do meu telemóvel. Entrou no e-mail e o primeiro mail que tinha não lido era da faculdade. Apenas conseguia ouvir o meu coração a bater cada vez mais rápido e a respiração irregular da Mia. O dedo trémulo clicou na mensagem e rapidamente percorri com o olhar o corpo da mensagem. …a sua candidatura foi aceite… - Entraste…