sábado, 17 de novembro de 2012

58º Capítulo - E essas são as pequenas coisas...


[Mia]

Tinha que admitir que aquilo me deixava bastante apreensiva. Já conhecia tanto a mãe dele como o padrasto e também a sua irmã. Agora os tios já era um passo grande. Se dissesse que não ficaria a sentir-me mal pois não queria que o Harry achasse que não queria conhecer a sua família. Ele também já conhecera a minha família, não pelas melhores razões, mas conheceu-os.

- Pode ser… - informei-o ainda um pouco relutante com a ideia. – vá, não há de ser uma coisa do outro mundo. – concluí dando um ar de maior confiança aquele pedido.

- Tens a certeza? – perguntou – A minha tia não fica zangada se não quiseres… - dava para ver que estava a mentir. Ele não me conseguia mentir, descobria sempre.

- Sim, Harry. Mentes muito mal… - ele sorriu seguido daquele movimento com a cabeça afastando o cabelo da frente da cara – então está decidido. – concluí enquanto voltava de novo a comer o bolo de chocolate que tanto me apetecia.

(…)

Estava deitada no sofá a mexer no meu telemóvel enquanto que o Harry estava na outra ponta com o computador em cima das pernas dele. Já estava quase na hora de jantar e começava a ficar com fome.

- Mia? – desviei a minha atenção do pequeno aparelho tecnológico que tinha na mão e levei o meu olhar até ao Harry deixando-me ficar na mesma posição, deitada sobre o sofá. Ele já tinha posto o computador de parte e começava agora a fazer-me uma massagem aos pés. Ele tinha umas mãos de anjo. – Queres ir jantar a um restaurante aqui perto? É muito bom… – torci o nariz. Não me estava a apetecer comer “comida de faca e garfo”. Apetecia-me um enorme e delicioso hambúrguer. Definitivamente estava a ser invadida por uma enorme vontade de comer comida de plástico, algo um bastante fora do normal para mim.    

- Apetece-me um hambúrguer… - respondi num tom baixo e com um pequeno sorriso envergonhado. Ele olhou-me surpreendido parando momentaneamente com os movimentos circulares sobre os meus pés. – Importaste?

- Um hambúrguer?! – verbalizou o que mostrava a sua expressão – Eu aqui a pensar num jantar super romântico e tu queres-me comer um hambúrguer? – apenas abanei afirmativamente com a cabeça soltando um pequeno sorriso. Vi-o abanar ligeiramente a cabeça e gargalhou suavemente. Afastou ligeiramente as minhas pernas de cima dele o suficiente para poder sentar-se junto a mim. Os seus olhos verdes estonteantes prenderam-se aos meus provocando-me um arrepio gélido. Continuavam a ter o mesmo poder sobre mim desde o primeiro dia em que o vi pela primeira vez. Debruçou-se sobre mim pousando a cabeça ao lado da minha. Abri um pouco de espaço para que o Harry coubesse ao meu lado mesmo que o sofá não fosse propriamente grande. O nariz do Harry roçou na minha face, o que fez com que me virasse para ele. Mais um arrepio seguido de um espasmo acabara de percorrer o meu corpo assim que o meu olhar chocou com o dele. Fechei os olhos e em menos de nada os meus lábios foram envolvidos pelos dele. Aos poucos, uma das mãos dele, desceu pelo meu corpo até parar na barriga. Ele fazia pequenos movimentos circulares com os dedos o que meu causava inúmeros arrepios. – Não achas que podes estar… - olhou várias vezes para mim e de seguida para a minha barriga. Percebi claramente o que ele queria dizer com aquilo. Não é que já não tivesse pensado no assunto mas como me faltava poucos dias para me vir a menstruação e como costumo andar mais esfomeada nessas alturas, achei que seria pouco provável estar grávida.  

- Não tenho cem por cento certeza mas acho pouco provável. – proferi. Coloquei a minha mão sobre a dele e em menos de nada a minha já estava por baixo da dele. A mão dele era enorme em comparação com a minha. Exercia alguma pressão através de movimentos circulares até entrelaçar de novo os nossos dedos – Queres que faça o teste? – perguntei reticente

- Não queres ter a certeza? – murmurei um simples “sim”. Simplesmente estar a falar naquele assunto fazia-me ter ainda mais dúvidas. Agora que pensava no assunto, tinha a ligeira sensação que tinha engordado. Suspirei ao notar que o que estava a pensar não tinha nexo nenhum. Se estava mais gorda era porque andava a comer bastante e isso era por causa de estar quase no inicio da menstruação. É isso…não há de ser mais nada…, repeti para mim mesma interiormente. O Harry aconchegou-me ainda mais a ele depositando um beijo na minha testa. Respirei fundo inalando o seu perfume tão característico – Estamos juntos para tudo…nunca te esqueças disso, amor.

(…)

Quando estava a vestir-me para irmos jantar, dei por mim a olhar para a barriga, à espera que tivesse diferente. Definitivamente, aquelas dúvidas já me estavam a dar a volta à cabeça! Abandonei aquelas ideias da minha cabeça e acabei finalmente de me arranjar. Curiosamente hoje estava um dia bastante agradável, pelo menos em comparação com os outros. Apenas corria uma aragem fria mas nada demais.

Demoramos algum tempo a chegar pois tivemos que ir até à vila seguinte onde era o McDonald’s mais perto. A minha sorte era que não havia praticamente fila nenhuma e com a fome que tinha comia uns três hambúrgueres se fosse preciso. O Harry pediu por mim, ele já sabia o que eu queria. O que mais me surpreendeu foi o facto de ter dito que era para levar. Devo ter ficado com cara de parva a olhar para ele. Estava a morrer de fome, como é que ele não queria comer ali?

- Não me olhes desse jeito! – disse-me enquanto pegava no saco com a comida – Achas que estas mesas têm alguma coisa de romântico? Não, pois não? – a pergunta era retórica pois nem me deixou falar – Deixei-te escolher o jantar mas sou eu que decido onde o vamos comer! Por isso, toca a andar para o carro… - este rapaz existe mesmo ou estou no meio de um sonho perfeito? Às vezes tenho tanto medo de acordar e perceber que tudo não passou de um sonho, de que este Harry não existe, que é apenas fruto da minha pura imaginação. A viagem até onde quer que ele me fosse levar estava a demorar um bocado e o cheiro da comida abria ainda mais o meu apetite. Ele deixou a estrada de alcatrão e entrou numa de terra batida. Ia perguntar para onde é que me levava mas nem me dei ao trabalho de perguntar pois já sabia que não me ia responder. Parou o carro algumas centenas de metros mais à frente.

- Então o que é que isto tem de romântico, Harry? – perguntei ao sair do carro. Estávamos literalmente no meio do nada e não havia nada de interessante.

- Agora nada mas daqui a uns instante já vai estar. – dirigiu-se até á bagageira do carro e tirou de dentro uma manta. Como é que não o tinha visto a pôr aquilo dentro do carro? – Já te disse que demoras eternidades a vestir-te? Dava para dar a volta ao mundo! – apenas sorri. Ele tinha razão, demorava sempre bastante tempo. Ele estendeu a manta em cima do capô do carro para nos sentarmos e foi buscar o saco com a comida. Não foi preciso muita cerimónia para começar a comer já que estava esfomeada. Olhei de relance para o Harry já com metade do hambúrguer comido mas ele ainda nem tinha começado a comer e estava a olhar para mim de uma maneira estranha.

- Porque é que estás a olhar assim para mim? E porque é que não comes? – um sorriso aflorou-lhe no rosto.

- Estava a pensar em como… - ficou ligeiramente corado e desviou o olhar de mim com um sorriso envergonhado. Não estava a perceber nada. – Esquece, não ligues. – continuou – Continua a comer, amor. – ia insistir mas achei melhor não. Quando já tínhamos comido, vi o Harry deitar-se sobre o capô. Colocou a mão sobre o meu ombro esquerdo exercendo pressão para que me deitasse também. Fiquei a visualiza-lo mas ele com a mão dele movimenta o meu queixo para que olhasse para cima. UAU! O céu estava incrivelmente estrelado. Nunca tinha visto o céu assim com tantas estrelas, estava perfeito. Ficamos ambos em silencio durante um bom par de minutos. Não havia palavras para descrever aquele momento de pura magia e paz. Por vezes sentia o olhar dele sobre mim, outras vezes era eu que desviava o olhar do céu para ele. Como ele me parecia ainda mais perfeito do que já era. O seu rosto era iluminado pela luz da lua, o seu peito movimentava-se com a sua respiração calma. Por vezes desviava o cabelo da frente da cara por causa da aragem que se fazia sentir. Um trovão ecoa ao longe após ver-mos o céu a ser iluminado pelo relâmpago. Arrumamos tudo e fomos embora.

(…)

Não sei porquê mas apetecia-me comer uma laranja. Tentei pensar noutras coisas para ver se adormecia mas por alguma razão aquele desejo não passava. Movimentei-me na cama de um lado para o outro tentando encontrar a melhor posição mas não conseguia. A minha atenção prendeu-se ao rosto do Harry, ele dormia serenamente ao meu lado. Não queria acorda-lo mas a vontade de comer era grande.

- Harry? – após chama-lo várias vezes, ele finalmente respondeu-me um “humm” ainda de olhos fechados – Apetece-me comer uma laranja! – finalizei à espera da resposta dele.

- Estou a impedir-te? – ele continuava de olhos fechados

- Não estás a perceber. Não há laranjas em casa… - começava a sentir-me mal por ter aquela vontade estranha de comer laranjas. Mas não conseguia evitar, parecia que me estava a consumir por dentro.

- Então não podes comer. – concluiu.

- Harry, eu quero comer agora… – ele finalmente abriu os olhos com uma expressão um pouco assustada. Naquele momento deve ter passado a mesma coisa tanto na minha cabeça como na dele. Já começava a ultrapassar o limite do normal.

- Amor, que queres que te faça? Não está nada aberto a estas horas da noite. Eu amanhã de manha vou comprar… - ele tinha razão. Aquele maldito apetite tinha que desaparecer – Chega-te a mim que isso já passa… - coloquei a minha cabeça sobre peito dele, abraçando-o. Começou a afagar os meus cabelos lentamente e em poucos minutos já estava mergulhada num sono profundo.

(…)

O cheiro a bolo de chocolate fez-me despertar lentamente. Abri os olhos e deparei-me com uma maravilhosa visão. O Harry tinha na mão um tabuleiro com a laranja que tanto queria ontem e duas fatias de bolo chocolate. Ele dava comigo em doida, não podia aparecer à minha frente com aquelas delicias e ficar á espera que diga que não.

- Tu não existes… - comentei enquanto me encostava à cabeceira da cama. Coloquei o tabuleiro em cima das minhas pernas e comecei por comer a laranja e depois o bolo de chocolate. Fiquei chocada quando percebi que afinal era só uma fatia para mim e a outra era para o Harry.

- Não me importo que comas mas eu também tenho que me alimentar! – exclamou ao mesmo tempo que dava uma trinca na fatia de bolo.

(…)

Antes de irmos para a casa da tia do Harry passamos pela farmácia. Tinha uma sensação estranha na barriga, era nervosismo. Fui apenas eu pois não queria que no dia seguinte aquilo fosse capa de revista. Quando voltei para dentro do carro notasse que o Harry estava ansioso ou nervoso. Não parava quieto com as mãos. Olhei para a caixa que tinha na mão, o resultado podia mudar a minha vida, pô-la completamente do avesso ou então deixar tudo na mesma. Essa incerteza começava a consumir-me por dentro. Guardei a caixa dentro da minha mala sem nenhum de nós proferir alguma palavra. O assunto gravidez deixou de parte todo o nervosismo que detinha por ir conhecer parte da família do Harry. O facto de ter a minha mão sempre agarrada à do Harry ajudou imenso a não começar a entrar em colapso emocional.

Em primeiro lugar, a tia do Harry assustou-me verdadeiramente. Assim que entramos os dois fui logo levada, literalmente, pela tia dele para a cozinha. Apenas me deixou cumprimentar tanto o tio do Harry como o padrasto dele. Na cozinha encontrava-se a Anne, a mãe do Harry com a irmã dele, a Gemma. Assim que me viu, abraçou-me fortemente. Já há três anos que não a via e também tinha imensas saudades dela. O problema é que a tia do Harry mal me deixou respirar pois começou logo com imensas perguntas. Se eu gostava ou não da comida que estava a preparar, se gostava da sobremesa, se gostava da decoração entre mil e uma coisas.

- Tratem bem da minha namorada, preciso dela! – a voz do Harry ecoou pela cozinha provocando uma gargalhada geral. Ele trazia uma menina ao colo que não tinha mais do que três, quatro anos. O jeito com que pegava na menina era perfeito, ele tinha imenso jeito para as crianças, isso era notório.  

(…)

Fiquei a saber durante o almoço que a prima do Harry se ia casar e que ia fazer uma prova do vestido a seguir ao almoço. Digamos que acabei por ser arrastada a ir também com todas elas. A Gemma só se ria da minha cara um pouco atrapalhada e assustada. Toda a família dele era encantadora mas não deixava de me sentir um pouco desconfortável. Para completar o meu estado de nervosismo, depois da prima dele fazer a prova do vestido, fui convencida pela tia do Harry, ainda nem sei bem como, a experimentar um vestido de noiva. Graças a deus que a Gemma também foi experimentar um e assim tornou-se menos constrangedor. Deve ter sido o momento mais estranho de toda a minha vida, eu vestida de noiva. Olhei de relance para a Anne esquecendo o facto que a tia do Harry estar bastante eufórica, ela sorriu para mim.

- Estás muito bonita, Mia. – senti-me corar imenso e rapidamente pedi à senhora para me ajudar a tirar o vestido não sem antes tirar uma fotografia. Pedido especial da tia do Harry. Ouvi o meu telemóvel a tocar duas vezes enquanto retirava o vestido. Peguei nele assim que vesti a minha roupa, eram duas mensagens do Harry.

“uhcidijdjsdncidcksls” – era o que dizia a primeira mensagem

“hsdbndlosdcsdc” – era o que dizia a segunda mensagem

Ok, fiquei literalmente parva a olhar para o telemóvel. Provavelmente devia estar sentado em cima do telemóvel mas mesmo assim decidi mandar-lhe mensagem a perguntar se estava tudo bem. Em poucos minutos recebi a resposta.

Desculpa amor, deixei a Amy brincar com o meu telemóvel!   

Sorri. Era impossível não sorrir. Ele era um querido. Depois da tarde ter passado num ápice voltamos para casa. O Harry encontrava-se na sala juntamente com a Amy ao colo, pelos vistos tanto o padrasto dele como o tio não se encontravam em casa. A televisão estava a ligada e dava um filme qualquer da barbie. Sentei-me ao lado dele e sorrateiramente deu-me um beijo sem que a pequena reparasse.

- Estamos a ver este filme pela terceira vez… - sussurrou-me com uma cara bastante engraçada – ela não se cansa! – disse de forma quase que desesperada.

- E então o filme fala mesmo sobre o quê? – provoquei-o. Ele olhou para mim e sorriu dando-me razão. – Não existes mesmo…

- Como é que foi o programa de mulheres? – antes que pudesse responder a Gemma apareceu na sala com a fotografia em que estava vestida com o vestido de noiva. Fiz-lhe sinal para que ela não lhe mostrasse mas não me ligou nenhuma. Baixei a cabeça para não ver a reação do Harry ao ver a fotografia. – Amy, fazes um favor ao teu primo lindo? Vais com a Gemma para o teu quarto brincar? – a pequena assentiu que sim e por isso a Gemma pegou na menina e levou-a para fora da sala. Sentia-me a corar aos poucos, estava bastante envergonhada. O meu coração parou assim que a mão dele tocou na minha face fazendo com que o olhasse. Um beijo carinhoso e calmo fez com que o meu coração começasse novamente a bater. – Ainda estavas mais perfeita do que nos meus sonhos. – confidenciou-me num tom baixo ainda com os lábios bem próximos dos meus. Estremeci da cabeça aos pés com aquela frase.   

- Tu sonhas comigo… - sentia a minha garganta seca – …assim? – concluí baixando a cabeça. A mão dele debaixo do meu queixo fez com que levantasse de novo a cabeça, olhando-o. Os seus olhos brilhavam estrondosamente juntamente com um sorriso genuíno.

- És a minha alma gémea. – disse-o orgulhosamente – Quero passar a minha vida toda ao teu lado… - não consegui dizer nada naquele momento. Abracei-o com todas as forças que tinha. Eu também queria muito passar a minha com ele, era o que mais desejava. O abraço foi interrompido quando chegaram a casa tanto o padrasto do Harry como o tio dele.

(…)

Deixei a minha mala em cima da cama tirando de dentro a caixa com o teste de gravidez. Antes de sair do quarto para ir à casa de banho, o Harry deu-me um último beijo abraçando-me de seguida. Li as instruções primeiro assim que cheguei à casa de banho e depois de fazer tudo como estava indicado voltei para o quarto. O Harry devia estar tão ou mais nervoso que eu pois andava de um lado para o outro e nem tinha dado pela minha presença.

- Agora só temos que esperar… - proferi obtendo a sua atenção. Pousei o objecto que ia decidir a minha vida em cima da mesa de cabeceira e sentei-me na cama, movimento repetido também pelo Harry. Envolveu o meu corpo com um dos braços e entrelaçou os dedos nos meus com a outra mão. Esperar. Era só isso que tinha que fazer.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

57º Capítulo - Um segredo e um almoço repentino


[Harry]

- Bom dia, mãe! – exclamei assim que atendi a chamada e punha em alta-voz para poder também ler o bilhete ao mesmo tempo.

- Bom dia meu filho. Acordei-te? – perguntou apressadamente. Olhei de rompante para o mostrador do relógio e percebi que já não era nada cedo. Mesmo assim a minha querida mãe achava que era cedo para mim. Embora tivesse que concordar com ela, eu dormia sempre até bastante tarde.

- Não, mãe. – tranquilizei-a – Já tinha acordado a alguns instantes atrás. Não te preocupes. – finalizei Então, o que se passa para me estares a telefonar? – peguei no pedaço de papel escrito que se encontrava em cima da mesa de cabeceira e vislumbrei de imediato a letra tão característica da Mia.

Amor, fui até à vila dar uma volta. Não te acordei porque estavas a dormir que nem um anjinho e seria um crime acordar-te :P Espera por mim para tomarmos o pequeno almoço juntos, não me vou demorar. Ah, e levei o carro.
Amo-te! Mia xxx

- Harry, estás a ouvir-me? – foi a primeira coisa que ouvi após ter lido as últimas palavras do bilhete. Não conseguia evitar sorrir sempre que ouvia ou lia um “amo-te” por parte da Mia mas também ficara preocupado com esta ida à vila repentina. Não me lembrava de nada que ela tivesse mencionado ontem para que hoje tivesse que sair tão cedo. Ainda por cima depois da nossa noite, para além de que costumo estar sempre atento ao que ela diz. – Harry Edward?

- Sim, mãe. Sim, estou a ouvir-te! – respondi-lhe finalmente assim que ouvi de novo o meu nome a ser prenunciado desta vez num tom de voz mais elevado, despertando-me novamente dos meus pensamentos.

- Desculpa, a sério. Mas já sabes como é a tia, consegue sempre o que quer e eu não consegui dizer que não. – arqueei as sobrancelhas em sinal de que não estava a perceber patavina daquela conversa. Porque é que a minha tia estava a ser referida nesta conversa? – Espero mesmo que não te importes de ires lá a casa com a Mia. Ela vai ficar mesmo triste se lhe recusares este convite!

- Wow! – exclamei completamente desorientado com toda aquela conversa – Convite? Mas que convite? – perguntei, definitivamente não estava a perceber nada.

- Mas tu ouviste alguma coisa do que disse anteriormente? – alguma coisa escapou-me por completo

- Hamm…acho que me perdi no meio. – justifiquei-me – Importas-te de me explicar que convite é esse?

- Ontem estava a falar com a tua tia e, sem querer, deixei escapar que estavas por aí com a tua namorada. – fechei os olhos imediatamente, adivinhando já o que vinha a seguir – Como já podes imaginar a tua tia começou logo a fazer imensos planos e a dizer que estava cheia de saudades tuas e que também queria conhecer a Mia. Já sabes como ela é, quis logo marcar um almoço para ires com a Mia e assim apresenta-la. – já estava a visualizar na minha cabeça a minha tia a andar de um lado para o outro a preparar mil e uma coisas para o almoço como se fosse lá a rainha de Inglaterra. 

- Mãe, eu gosto muito da tia, sabes bem que sim, mas o objectivo para ter vindo para aqui foi para estar apenas com a Mia, sem mais ninguém a intrometer-se. – suspirei assim que acabei de falar. Não havia como dizer que não há minha querida e adorável tia.

- Eu sei que sim. Mas se fizeres este desfeito à tua tia sabes bem que ela nunca mais se irá esquecer. – a minha mãe tinha razão, como sempre – Vá, é só um almoço, não é o fim do mundo!

- Não sei se a Mia vai gostar muita desta ideia, ela não se vai sentir muito confortável. – já estava a imaginar a sua expressão de assustada ao receber a notícia – Mas pronto, falo com ela e depois digo-te alguma coisa.

- Está bem. – houve uma ligeira pausa até falar novamente – Filho? Ficaste zangado comigo?

- Achas que consigo ficar zangado contigo?! É claro que não! – despedi-me da minha mãe e pousei o telemóvel em cima da mesa de cabeceira ao lado do bilhete da Mia.

Desci até ao piso de baixo e procurei pela cozinha e pela sala sinais da Mia mas ela ainda não tinha chegado. Passei por uma das janelas da sala que tinha vista para a entrada e o carro não se encontrava onde o tinha deixado. Ela definitivamente ainda não tinha chegado. A minha primeira reação foi telefonar-lhe no intuito de ter a certeza que estava bem porém não queria parecer demasiado controlador, não a queria sufocar. Acabei por me sentar no sofá à espera que ela chegasse já que ela tinha dito para tomar-mos o pequeno-almoço juntos.

(…)

Assim que ouvi a porta de casa a abrir-se, levantei-me rapidamente do sofá e fui ao encontro dela. Envolvi o corpo dela com os meus braços perto da sua cintura elevando-a no ar. Ela sorriu delicadamente enquanto cruzava as pernas em volta da minha cintura. Num ápice envolvi os meus lábios nos dela num beijo apaixonado.

- Isso são tudo saudades minhas? – sussurrou contra os meus lábios com a respiração algo irregular enquanto mexia no meu cabelo de uma forma carinhosa

- É o que dá acordar sem estares ao meu lado. – respondi do mesmo jeito voltando a unir os meus lábios aos dela. Estava mais que comprovado que a minha vida não fazia qualquer sentido sem ela. Sem o seu jeito de menina que tanto adorava, sem o seu toque na minha pele. – Fico assim...cheio de saudades tuas. – concluí.

- Se for para ter uma recepção destas todas as manhãs, bem vais acordar muitas vezes sozinho! – falou de um modo divertida

- Não me faças uma coisa dessas. – pedi rapidamente – Acordar ao teu lado é essencial para que consiga viver… - justifiquei

- Ai é? – a Mia roçou levemente o nariz no meu e pestanejou de uma forma incrivelmente deliciosa – Sabes, tenho um segredo para te contar. Amo-te muito, meu anjo! – não era a primeira vez que ouvia um “amo-te” por parte dela mas continuava a arrepiar-me como se fosse a primeira vez que o dissesse.

***

Encontrava-me na aula de Educação Física, a única em que podia ver a Mia já que não pertencia-mos à mesma turma. Acho que passava a maior parte do tempo a olhar para ela do que a fazer os exercícios que o professor mandava. Assim que a aula se deu por terminava esperei na entrada do campo de jogos pela Mia, já que a aula dela ainda não tinha terminado. Após alguns minutos a aula terminou e ela veio ter comigo.

- Então e o meu beijo? – perguntei enquanto a abraçava mas ela empurrou-me afastando-me dela – Então?!

- Harry, estás todo suado! – respondeu – Só há contacto físico depois de tomares banho…

(…)

- Agora já estou apresentável para receber um beijo da minha linda namorada? – ela apenas sorriu e afirmou positivamente com a cabeça. Pousei as minhas mãos na cintura dela puxando-a lentamente para mim. Percorri a linha do maxilar com os lábios depositando vários beijos até unir os nossos lábios num longo beijo – Já estás pronta? – tínhamos combinado em ir almoçar juntos e como não tínhamos aulas de tarde, aproveitávamos para dar um passeio. Os testes dos últimos dias andavam a retirar tempo de namorar e já começava a sentir saudades de estar simplesmente com ela sem pensar em testes.

- Não. Preciso de ir ao cacifo buscar a minha mala e já podemos ir. – ia acompanha-la até ao cacifo mas ela disse que não era necessário e que se despachava. Aproveitei para despedir-me do pessoal da turma antes de me encaminhar para o portão da escola. Apenas tive uns dois minutos há espera dela, ela vinha a procurar qualquer coisa na mala mas que por algum motivo não a conseguia encontrar. Pudera, dentro daquela mala podia-se encontrar tudo e mais alguma coisa. Sempre que lhe pedia para guardar o meu telemóvel ou a minha carteira, já sabia que quando fosse procurar tinha que tirar tudo de lá de dentro. – Que raiva. Não encontro o cartão da escola! – resmungou assim que chegou junto a mim – Segura na mala. – apenas tive tempo de esticar os braços e de imediato colocou a mala e também os livros e o caderno para poder segurar. Olhei para dentro da mala e pude mais uma vez comprovar que as malas das mulheres são um autentico mundo de variedades. – Ok, definitivamente tenho que dar uma arrumação a esta mala.

- Ou então comprar uma mais pequena assim já não cabe tanta coisa. - comentei

- E depois onde punha as tuas coisas? Sim, porque a mala é minha mas carrego aos ombros as minhas coisas e as tuas.

- Pronto. Já não digo mais nada! – ela olhou-me zangada, tinha que admitir que ficava ainda mais irresistível assim. Não consegui conter o sorriso o que acentuou ainda mais a sua expressão. Após alguns minutos ali à porta da escola ela lá encontrou o cartão num das mil e umas bolsas que tem no interior da mala – tenho que te comprar um GPS para não te perderes na tua própria mala. – acho que foi a gota de água. Se o olhar matasse, já estaria estendido no chão. Ela procurou no interior na mala qualquer coisa e quando ela tirou para fora é que reparei no que era. Tirou as minhas chaves de casa e a carteira e deu-mas, fiquei espantado ao vê-la tirar também os meus óculos de sol e a calculadora. Não me lembrava de os ter dado para guardar.

- Guarda tu as tuas coisas! – ao mesmo tempo que pegava na mala e nos livros deixando-me com os meus pertences. – Vou-me embora! – Vi-a sair da escola sem olhar para trás ficando parada lá fora. Guardei a carteira no bolso de trás das calças e as restantes coisas dentro da mochila e fui ter com a Mia.

- Então não te ias embora? – perguntei enquanto colocava o meu braço por trás das costas dela mas rapidamente se afastou virando-se para mim com uma cara visivelmente chateada.

- Não sei onde vamos almoçar por isso não posso ir a lado nenhum. O que merecias era ir almoçar sozinho, isso sim! Para a próxima não falavas sem pensar…

- Oh. Não vais ficar chateada comigo por uma cena destas pois não? – inclinei-me um pouco sobre ela numa tentativa de a beijar mas virou a cara antes que isso acontecesse – Amor, desculpa. Tu já sabes como sou e que por vezes digo coisas parvas e sem sentido. Desculpa o teu lindo e amoroso namorado por ser um parvo… - a Mia soltou um pequeno sorriso. Cerquei a sua face com as minhas mãos e desta vez não desviou a cara conseguindo beija-la – mas vá, tens que admitir que teve a sua piada! – assim que acabei de falar, só tive tempo de correr para longe dela pois estava preparada para me bater com os livros.

- Porque é que estou apaixonada pelo idiota do Styles? – resmungou ao que gargalhei.

(…)    

Depois de almoçar, o meu objectivo seria leva-la até ao seu jardim favorito que tinha um miradouro onde se podia ver toda a vila. Como não queria que ela soubesse antes de lá chegar, tapei os seus lindos olhos com a minha mão. Não tinha mais nada para o fazer. Ela reclamou e reclamou enquanto caminhava com a minha ajuda.

- Harry, já me podes destapar os olhos? – perguntou novamente. Já tinha perdido a conta às vezes que me tinha pedido para tirar a minha mão da frente dos seus olhos.

- Não, só mais um bocadinho… - enquanto a guiava em direcção ao miradouro

- Ainda vou é cair, isso sim! – resmungou mais uma vez. Parei o movimento e consequentemente ela também.

- Achas que te deixava cair, tonta? – a Mia não respondeu, apenas deitou a língua de fora. Voltei a guiá-la um pouco mais para a frente e assim que chegamos falei – já chegamos. Vou destapar… - anunciei. Ela rapidamente elevou as mãos à minha tirando-a da frente dos olhos. Esperei expectante pela sua reação e após alguns segundos um sorriso lindo aflorou no seu rosto. Era impressionante como quase que vivia apenas para a fazer e ver sorrir. A Mia encostou-se junto ao muro do miradouro que lhe dava um pouco acima da barriga. Debruçou-se ligeiramente e os seus cabelos castanhos com alguns caracóis eram levados pela brisa que se fazia sentir. Não interessava o mundo, a Mia aos meus olhos era perfeita. Aproximei-me dela e fiz deslizar os meus braços por debaixo da sua camisola desde a cintura até se enrolarem à volta da barriga. Ela virou um pouco a cara, o suficiente para me observar. Sorri e ela também. Não sorria exageradamente, era o seu sorriso envergonhado, o seu sorriso apaixonado.  

(…)

Passamos o resto da tarde no parque a falar de tudo e mais alguma coisa, de coisas sérias e outras sem interesse nenhum. De coisas com lógica e outras nem tanto. Tinha sido essa uma das qualidades que me fizera apaixonar aos poucos por ela. A facilidade que tínhamos em conversar sobre todos os temas e mais algum, de lhe poder ligar a qualquer hora da noite só para lhe dizer alguma estúpida e sem nexo mas que sabia que lhe deixava um sorriso antes de voltar a dormir.    

- Harry? – a voz dela chamou-me a atenção fazendo com que a olhasse – Tenho um segredo para te contar… - senti a mão dela a ir ao encontro da minha acabando por se entrelaçar. Senti qualquer coisa estranha naquele momento, não sabia explicar muito bem o que era – Eu amo-te, Harry Styles. – concluiu. Era a primeira vez que o dizia. Não conseguia expressar por palavras o que ia naquele preciso no meu coração. Era diferente de tudo, ainda por mais por ser inteiramente correspondido. Elevei-a no ar e rodopiei-a provocando-lhe um sorriso lindo. Assim que a pousei de novo no chão levei os meus lábios ao dela. Beijando-a.

 ***

- Então o que fez a minha linda princesa levantar-se da cama tão cedo? – ao mesmo tempo que a pousava no chão. Estava deveras curioso sobre o que a fez acordar assim tão cedo, tinha que ser algum assunto sério.

- Isso querias saber não era? – apenas abanei afirmativamente com a cabeça – É surpresa! – concluiu com um sorriso enquanto se dirigia para a cozinha pondo um saco em cima da mesa.

- Não me vais contar? – perguntei escandalizado enquanto me dirigia também para a cozinha

- Não! – enquanto me virava as costas. Cheguei-me junto a ela e abracei-a por trás, encostando-a à banca da cozinha.

- Mesmo que peça muito muito muito? – sussurrei-lhe ao ouvido. Ela encolheu-se toda assim que depositei vários beijos no pescoço. Ela continuava a dizer que não – Mesmo que te dê muitos beijinhos? – rodei o seu corpo de modo a ficar de frente para mim, e dei vários beijos nos seus lábios. Mesmo assim ela continuava irredutível – Já não gosto de ti! – exclamei amuado ao mesmo tempo que a largava e virava as costas.

- Olha a minha cara de preocupada! – estava mesmo frustrado por não conseguir fazer com que ela dissesse o que foi fazer e qual é que era a surpresa.

- Ai és assim comigo? – tentei fazer o meu ar mais angelical mas a Mia estava completamente firme na ideia de manter tudo em segredo.

- Sou. Não me convences com esse ar de cachorrinho abandonado. – fez uma ligeira pausa e depois prosseguiu – A única coisa que te posso dizer é que vamos estar ocupados depois de amanha. E pronto, mais não digo.

- Pelo menos já é alguma coisa. – acabei por dizer resignado – E eu vou gostar?

- Claro que sim. Vais estar comigo e isso é o suficiente para gostares, melhor, para amares! – informou-me

- Anda muito convencida a menina! – provoquei-a.

- A culpa não é minha mas sim do meu namorado que está sempre a dizer que sou essencial para a vida dele.

- Cá para mim ele está a mentir…

- Ai é? – ela pegou no saco que trazia, não fazia ideia do que tinha lá dentro – Olha eu passei pela mercearia da Dona Ellen, quer dizer, a senhora viu-me e quase me obrigou a entrar na loja. Para além de me ter contado outras histórias divertidíssimas sobre ti que ainda me vais explicar um dia, ela também me deu esta espécie de bolo ou seja lá o que for, porque disse que gostavas muito. – mostrou-me o bolo que tanto gostava – Mas pelos vistos não vais ter nada…

- Não me faças uma coisa dessas. Não tens noção das saudades que tenho que comer isso… - pedi quase que suplicando. Em Londres não havia daquilo, era só o mesmo naquela mercearia que se vendia.  

- Então quer dizer que o meu namorado não me estava a mentir pois não?

- Claro que não! Ele já não consegue viver sem ti…

- Acho muito bem! – entregou-me o saco com o bolo e num instante comecei a comê-lo

- E para ti o que trouxeste? – perguntei ao mesmo tempo que me sentava numa das cadeiras que se encontravam em redor da mesa.

- Uma fatia de bolo de chocolate. – já era de esperar, ela e o bolo de chocolate são inseparáveis – Quer dizer, lá já comi duas fatias. A senhora ficou muito séria a olhar para mim quando lhe disse que tinha acordado com desejos de comer chocolate. Perguntou-me logo se não estava grávida e que ainda era muito nova para ser mãe! – sem querer engasguei-me. A ideia de a Mia estar grávida era assustadoramente boa. Queria ser pai e acima de tudo queria que a Mia fosse a mãe dos meus filhos. Mas não agora!   

- Se eu não conhecesse a tua vontade matinal de comer chocolate acho que também teria as mesmas dúvidas. – ela apenas sorriu enquanto comia o seu bolo de chocolate – Olha, tenho uma coisa para te contar também – a Mia parou por momentos de comer – A minha tia quer conhecer-te e por isso está a organizar um almoço de família. Ela convidou-nos, aos dois, para irmos ao almoço. – a sua expressão facial mudou por completo como previa. – Então o que achas?