quarta-feira, 31 de outubro de 2012

55º Capitulo - Não te quero perder (Parte II)


[Harry]

As palavras evaporam-se da minha mente. Tudo o que tinha dado como certeza, agora transformaram-se em meras indecisões. Como é que é possível tudo ter mudado num simples curto espaço de tempo? Como é que é possível que o meu mundo tivesse desabado sem o conseguir contrariar? Subi as escadas com alguma rapidez e assim que cheguei ao topo, olhei de relance para baixo. Não. A Mia não dissera nem mais uma palavra nem viera atrás de mim. Queria ficar sozinho para conseguir digerir bem o que tinha acabado de ouvir, mas no fundo, queria que ela tivesse corrido até mim. Que me tivesse abraçado com força e que dissesse que tudo ia ficar bem. Sentir os seus lábios nos meus, um gesto simples mas que me trás toda a segurança possível. Mas não, ela ficara na sala.    

Assim que abri a porta do quarto encontrei as malas ainda por desfazer no chão. Não sei o que me deu mas passou por todo o meu corpo uma enorme quantidade de energia negativa. Dei um enorme pontapé numa das minhas malas fazendo com que caísse ao chão. Não. Aquilo não me tinha feito sentir melhor, continuava na mesma ou ainda pior. Deixei cair o meu corpo em cima da cama ficando a olhar fixamente para o tecto. Como que esperando que aparecesse, milagrosamente, as respostas a todas as minhas perguntas.

Não conseguia entender o que estava a sentir. Por um lado estava feliz, muito feliz, isso era obvio. Era um dos maiores sonhos da Mia e saber que pode estar prestes a concretizar um deles deixa-me verdadeiramente feliz. Mas por outro lado é Nova Iorque, que é só do outro lado do Atlântico. Para além de que são uns longos quatro anos. As promessas que lhe fizera sobre como a distância nunca nos separaria vieram-me à cabeça. Porque é que agora me pareciam tão frágeis? Porque é agora era tão difícil?  

***

Estava a chover torrencialmente e pela televisão pude ouvir as recomendações da policia, não sair de casa enquanto tiver a chover excepto se for extremamente necessário. Tive que ouvir também as recomendações da minha mãe pois não estava a achar muita piada à ideia de sair de casa. Tinha que ir ter com a Mia, era extremamente necessário, ela encontrava-se sozinha em casa e tinha medo que lhe acontecesse alguma coisa. Saí de casa e fui o mais rapidamente possível para casa da Mia. Ter o guarda-chuva aberto ou não ter era a mesma coisa, estava-me a molhar à mesma.

O tempo desde que toquei na campainha até ela me abrir a porta ainda foi grande. Devia estar no sofá embrulhada em mil e um cobertores. Assim que abriu a porta pude ver a sua expressão entristecida e algo pálida. Estava claramente com bastante frio. Ela deu-me passagem para entrar em casa e murmurou qualquer coisa sobre roupa. Subiu as escadas e pouco tempo depois apareceu com umas calças de fato de treino e com uma camisola.

- Muda de roupa senão ainda ficas doente – chegou-se junto a mim e selou os nossos lábios. Tinha-os gelados tal e qual como a ponta do nariz. Mudei-me de roupa e assim que regressei à sala encontrei-a de novo embrulhada em mil e uma mantas com uma caneca de chocolate quente ao lado. Nunca conhecera uma rapariga tão friorenta como ela, aliás nunca conhecera ninguém como ela. Ela era única. Sentei-me ao lado dela e abracei-a puxando-a para junto de mim. – tenho frio… - murmurou. Pressionei as minhas contra os seus braços produzindo fricção para a aquecer. Percorri a sua face com vários beijos até encontrar de novo os seus lábios macios agora um pouco mais quentes.

- Melhor? – os seus olhos castanhos claros estavam fixos em mim, brilhavam de uma maneira especial. Ficava inevitavelmente pregado aquele olhar, completamente enfeitiçado. Não interessava mais nada no mundo, ela era o meu mundo, o meu coração.  

- És incrível, Harry. – disse-o com um sorriso que achei incrivelmente perfeito, para variar. Tudo nela era perfeito. Conquistou-me de uma maneira que nem eu pensei que fosse possível.

- Tudo o que sou hoje, devo-te inteiramente. – passei com a polpa dos dedos pela sua face agora um pouquinho mais rosada, acariciando-a. Fechou os olhos no momento em que sentiu a minha pele a embater na dela – Foste tu que me ensinaste a amar de uma forma incondicional, de como amar é uma partilha de sentimentos que evidencia o melhor de nós. Foste a melhor coisa que me aconteceu, nunca duvides disso. – os seus olhinhos brilharam e um sorriso esboçou-se na sua face. Não era um sorriso exagerado, era o seu sorriso apaixonado. Não resisti em passar com o polegar no lábio inferior antes de unir de novo os nossos lábios, agora não tão frios. – Amo-te – sussurrei com a testa encostada à dela e de seguida dei-lhe um beijinho no nariz.     

- Sabes, hoje tive um sonho mau. Sonhei que me ia embora, que ia para Portugal e que acabávamos. – só de pensar nessa possibilidade deixava-me com o coração apertado.  

- Foi só um pesadelo, amor. – enquanto depositava vários beijos na sua face – Isso nunca vai acontecer, não há distância alguma que me separe de ti. – não haveria nada neste que me separasse dela. Nada. 

- Prometes?

- Prometo!       

***

Porque é que agora não me parece tão simples como naquela altura? Parece que fiquei sem forças de um momento para o outro. Deixei de sentir o chão debaixo dos pés. Parece que deixei de ter o controlo de tudo à minha volta e isso é assustador.

Passado algum tempo comecei a estranhar a demora da Mia em voltar para o quarto, será que ela foi para outro quarto? Levantei-me da cama e abri a porta dos restantes quartos para ver se a encontrava mas não estava em nenhum deles. Desci até á sala e encontrei-a deitada no sofá já a dormir. A sala não estava muito quente pois a lareira já se tinha apagado, apenas havia cinzas. Cheguei-me junto dela tentando fazer pouco barulho mesmo ciente que ela tem um sono pesadíssimo. Encontrava-se toda encolhida por debaixo do cobertor e assim que toquei com a palma da mão no seu rosto, este estava frio. Não podia deixa-la ali, amanhã de certeza que estaria doente. Voltei ao quarto num instante para abrir a cama e regressei de novo à sala para a levar para cima. Desviei o cobertor que a cobria e com cuidado, coloquei os meus braços por debaixo do corpo dela para a conseguir levantar.

Depois de a ter nos braços, desviei a minha atenção para a sua face. Continuava a dormir profundamente, nem um pequeno sinal de estar a acordar. Só passado alguns segundos é que me dei conta de que estava a sorrir. Mesmo a dormir, ela tinha o poder de me pôr a sorrir genuinamente.

Encaminhei-me devagar até ao andar de cima e deitei-a em cima da cama cuidadosamente. Ela não pode dormir com a mesma roupa com que andou todo o dia! Abri uma das muitas malas que trouxe e procurei o seu pijama. Até pensei que fosse mais complicado de o encontrar mas rapidamente dei com ele. Fiquei parvo quando vi que ela tinha posto três pijamas dentro da mala, um para o frio, outro para se estivesse calor e outro para o tempo nem frio nem quente. Optei pelo mais quente. Comecei por tirar-lhe as pantufas que trazia e depois as calças de ganga. Verifiquei antes se tinha as mãos quentes para quando estas tocassem no corpo dela não a acordar. Perdi a noção do tempo a partir do momento em que desabotoei os botões das calças dela e as fiz deslizar pelas suas pernas abaixo. Eu amava cada recanto do seu corpo, perdia-me em cada detalhe, em cada linha do seu corpo. Não a queria perder, era tudo o que desejava.

Depois de lhe vestir o pijama, puxei o édredon para a cobrir e ainda coloquei mais um cobertor por cima dela. Aconcheguei-a e de seguida afastei-me da cama não sem antes lhe dar um beijo na testa. Tirei o computador de uma das malas e liguei-o. Pesquisei o nome da escola para onde a Mia poderia ir daqui a uma semana. Era realmente bastante conceituada e onde só entravam os melhores.    

Queria que ela fosse mas ao mesmo tempo não conseguia ficar feliz. As dúvidas começavam a amontoar-se na minha cabeça. Será que ela iria embora sem me dizer nada?

[Mia]

O meu coração por momentos parou, uma dormência percorreu todos os músculos levando-me a sentar em cima do sofá. Levei as minhas mãos á cabeça em sinal de desespero. Nada daquilo podia estar a acontecer, tinha que ser um pesadelo, não podia ser real. Era uma dor tão forte, tão sufocante que só queria que desaparecesse. Ele tinha-me prometido que não desistiria de mim, que não me deixava!

Suspirei e peguei na manta que estava no sofá, cobri-me com ela enquanto observava o lume a consumir o que restava da lenha. As lágrimas escorriam silenciosamente e lentamente pela minha face. Fechei os olhos e tentei dormir, era o melhor que podia fazer.  

(…)

Acordei com uma forte dor de cabeça que me consumia por completo. Doía-me a garganta e mal conseguia respirar pelo nariz. Tinha um enorme peso sobre o meu corpo e assim que abri os olhos, a custo, apercebi-me que não estava no sofá da sala onde tinha adormecido. Estava no quarto, na cama com imensa roupa por cima de mim e com o meu pijama vestido. Tirei um dos cobertores que estava por cima de mim para me poder virar para o lado contrário. O meu olhar encontra rapidamente o Harry sentado numa cadeira em frente ao computador. Da cama não conseguia ver o que estava a fazer

- Harry?! – chamei-o. Foi aí que me apercebi do estado da minha garganta, sentia imensas dores quando emitia algum som. Assim que ouviu o seu nome virou-se na minha direcção e levantou-se de seguida. – Doí-me a garganta… - acho que nem era preciso dize-lo porque pela minha voz notava-se que não estava bem da garganta.

- Já venho! – disse apenas fechando a porta do quarto atrás de si. Ele tinha acabado de sair do quarto sem praticamente me olhar. Não tinha noção do quanto aquela atitude me magoava profundamente. Alguns minutos após, ele apareceu com um copo de água e com qualquer coisa na mão. Sentou-se ao meu lado no pequeno espaço que existia entre mim e a beira da cama –  Tens que tomar este comprimido para que não fiques pior – enquanto estendia a mão para me dar o pequeno comprido branco. Ergui-me ligeiramente e depois de ter o comprimido na boca engoli um pouco de água. Um silencio desolador instalou-se desde que me deitara novamente. Via-o mexer com as mãos uma na outra – Quem mais sabia? – quebrou o silencio olhando pela primeira vez, naquela manhã, para mim

- O que é que isso importa agora? – nunca pensei que a primeira pergunta dele depois da conversa de ontem fosse aquela. Não percebia o porquê daquilo ser importante logo agora.

- Apenas queria saber se fui o último a ser informado desta novidade. – aquelas palavras magoavam-me mais do que podia imaginar e ele parecia não ter noção disso.

- Queres mesmo discutir isso agora? – ao mesmo tempo que me levantava e me encostava à cabeceira da cama. A minha cabeça estava mesmo pesada e a dor de cabeça só aumentava. Custava-me também imenso respirar pelo nariz. Como odiava ficar doente.

- Não quero discutir, apenas gostava de saber. – continuou – Achas que não tenho esse direito, é? – não conseguia compreender o que lhe ia na cabeça naquele momento, o porquê de estar a insistir no mesmo assunto.

- Só não percebo porque é que é queres saber precisamente agora.

- Mas custa-te assim tanto dizeres-me? – dava para perceber que não ia desistir por isso respirei fundo e respondi-lhe.  

- O Brian e a Nicole – assim que acabei de falar a sua expressão mudou de imediato, já sabia que vinha problemas.

- Porque é que o Brian soube primeiro que eu? – ao mesmo tempo que se levantava num ápice da cama. Olhava-me como se tivesse a razão toda do lado dele.

- A sério, Harry?! – perguntei ainda incrédula com a atitude dele – Não acredito que acabaste de me fazer essa pergunta!

- Ainda compreendo que possas ter dito primeiro à Nicole, mas ao Brian? – exclamou ignorando por completo o que dissera anteriormente – Eu é que sou o teu namorado, não ele. – definitivamente não estava a acreditar no que estava a ouvir

- Mas estás parvo ou quê? – disse já quase a perder a paciência. – Ele soube primeiro que tu porque ainda estava em São Francisco. Contei-lhe porque é meu amigo e continua a sê-lo mesmo que não gostes da ideia. – a minha cabeça parecia que ia explodir a qualquer momento e as lágrimas já começavam a formar-se por causa da dor de garganta que tinha – Isto é ridículo… - desabafei – esta conversa é ridícula… - conclui desviando o meu olhar do Harry

- O que é ridículo é contares apenas agora o facto de poderes ir para o outro lado do oceano. Porque não o fizeste mais cedo?

- Porque não era importante… - murmurei apenas.  

- Como não era importante Mia? Estavas a pensar nem sequer me contar e ires-te embora sem dares qualquer justificação? – era inacreditável o que tinha acabado de ouvir. Agora sim, as lágrimas que se amontoavam nos meus olhos vinham da dor que o meu coração sentia.

- Não te vou responder a isso porque a última coisa que quero é chatear-me contigo.  

- Não acredito que é verdade. – ignorando novamente o que dissera – Como é que eras capaz de me fazer o mesmo?

- Não, como é que podes pensar uma coisa dessas de mim? – desviei a roupa que tinha por cima de mim para me poder levantar da cama – É verdade, não te ia contar. Mas não me ia embora como pensas. – respirei fundo – Sou mesmo estúpida – murmurei –  Para que saibas, não ia para Nova Iorque mesmo que tivesse sido aceite na escola. Se não fosse o Brian a contar à Nicole, nunca te teria contado e sabes porquê? Porque não te queria deixar, porque para mim, és mais importante do que qualquer escola do mundo, porque os meus sonhos à muito que deixaram de fazer sentido se não estiveres ao meu lado. – desviei o olhar dele por momentos – Eu não ia, Harry. Melhor, não vou.

- E a minha opinião não conta? – voltei a concentrar a minha atenção nos olhos dele e um arrepio enorme percorreu todo o meu corpo – Não percebes que estás a cometer exactamente os mesmos erros? Estás a excluir-me das tuas decisões! Não vês como isso me magoa, ver a pessoa mais importante da minha vida a não confiar em mim?  

- Harry, isto não se trata de confiança. É claro que confio em ti, a questão não é essa. Eu não te contei porque, como tu próprio disseste, já cometi erros e ir-me embora sem te dizer nada foi um deles. Desta vez não me quero ir embora simplesmente. Não me quero ir embora se isso implicar perder-te. Pouco me importa se a escola é a melhor ou a pior, se não estiveres comigo, os meus sonhos deixam de fazer qualquer sentido.

- Mas se entrares, quero que vás! Que raio de namorado seria eu se te impedisse de seguires os teus sonhos. Nunca me perdoaria se soubesse que desistirias dos teus sonhos por mim. – ele aproximou-se de mim e com as suas mãos macias limpou as poucas lagrimas que escorriam pela face. As pálpebras fecharam-se automaticamente com o toque dele disfrutando ao máximo daquele momento. Os braços dele ladearam o meu tronco, abraçando-me – Não te quero perder… - sussurrou-me ao ouvido fazendo com que todos os músculos do meu corpo se contraíssem.   

- Como é que ficamos? – foi o que me custou mais dizer e o que tenho mais medo de ouvir. 



Aqui está mais um capitulo!
Espero que gostem e deixem os vossos comentários.
Tenho a dizer que escrevi a parte do Harry a ouvir a "little things", a música é dolorosamente perfeita! Fiquei completamente rendida a ouvir a música. 
beijinhos

Dri

terça-feira, 23 de outubro de 2012

54º Capitulo - Não te quero perder (Parte I)


Deixei a minha cabeça encostar no banco do carro e coloquei a manta que trouxera para o carro em cima de mim. Estava uma noite fria e precisava de alguma coisa para me aquecer. Já estávamos a algum tempo em viagem e o sono já começava a querer dar de si. A conversa fazia-me esquecer que estava prestes a fechar os olhos a qualquer momento. Desviei a minha atenção da estrada e prendi-a ao rapaz que estava ao meu lado. Não sei porquê mas passou-me inúmeros pensamentos pela cabeça, recordações diversas sobre o nosso passado. Sorri ao lembrar-me de algumas.  

***

Finalmente tinha acabado a última aula da semana. Despedi-me dos meus colegas e encaminhei-me para a saída. Ainda não tinha saído da escola e já via a silhueta do Harry no portão à minha espera. Sorri naturalmente, podia estar com ele há pouco mais de três meses mas continuava a sorrir como se fosse a primeira vez que o via. Não o conseguia evitar. Assim que cheguei junto a ele os seus braços rodearam a minha cintura puxando-me para junto dele. Os lábios dele envolveram os meus num beijo apaixonado. Deixei de ouvir os barulhos normais de uma escola para apenas ouvir o barulho do meu coração e do Harry a bater. Eram aqueles momentos que queria gravar para sempre no meu coração.

***

- Se continuas a olhar-me desse jeito vou ter que parar o carro! – a voz rouca do Harry fez-me voltar para a realidade – não te resisto por muito tempo… - fez aquele olhar de pervertido o que me fez bater-lhe levemente no braço

- Parvo! – reclamei olhando de novo para a estrada. Fechei os olhos por momentos e pensei que fosse mesmo adormecer ali mesmo.

- Se quiseres podes dormir… - encarei-o novamente e abanei negativamente com a cabeça

- Não, porque senão pode-te dar o sono e a última coisa que queremos é ter um acidente. – ele estaria com sono de certeza e se me visse a dormir podia cair na tentação e adormecer a conduzir. Era tudo o que não queria.

- A sério, não te preocupes com isso. Dorme…

- Mesmo?

- Sim, amor. – fechei os olhos e o som proveniente do radio foi diminuindo de volume até praticamente deixar de ouvir a música. Aconcheguei-me o melhor que consegui no banco e depois senti uma das mãos do Harry a puxar a manta que tinha para me cobrir por completo. Acabou por deixar a mão dele por cima da minha, acariciando-a. Juro que ia reclamar porque sabia que aquele gesto podia ser perigoso mas estava-me a saber demasiado bem. Ele conhecia-me bem e sabia que em poucos minutos já estaria a dormir que nem uma pedra. E foi mesmo isso que aconteceu.

(…)

Um arrepio percorreu a minha espinha de cima a baixo fazendo-me acordar aos poucos. Um ar frio entrava pela minha camisola a cima deixando-me gelada, inconscientemente tentei cobrir-me mas o frio continuava a invadir o meu corpo.

- Já chegamos! – a voz do Harry bem junto do meu ouvido aqueceu-me o corpo instantaneamente – Acorda… - abri os olhos a custo mas as pálpebras fecharam-se novamente devido ao sono que ainda tinha. O Harry deve ter reparado e por isso plantou vários beijos na minha face.  

- Está frio… - reclamei, abrindo novamente os olhos tentando perceber onde é que se encontrava o Harry. Reparei que a manta que me devia cobrir estava praticamente toda no chão do carro. Era normal que estivesse frio. 

- Destapaste-te Mia… - informou-me a sorrir. Como eu amava aquele sorriso logo pela manhã. – Passei a viagem toda a parar o carro para pôr a manta por cima de ti mas acabavas sempre por tira-la. Demoramos o dobro do tempo para chegarmos aqui!

- Não tenho culpa de me mexer muito… - tinha de admitir que tinha um péssimo dormir. Mexia-me com bastante frequência e normalmente deixava nódoas negras nas pessoas que dormiam ao meu lado. Nem sei como é que o Harry ainda não tem nenhuma…um verdadeiro milagre.

- Não estás curiosa por saber onde é que estás? – abanei assertivamente com a cabeça e espreitei pelo vidro para ver se reconhecia o local. Não, nunca lá tinha estado. Estávamos nalgum lugar isolado do mundo porque apenas conseguia ver uma casa, que por sinal era linda, e mais nada. Levantei-me do carro com a manta enrolada no meu corpo, estava mesmo cheia de frio. Pude ver melhor a casa que se encontrava à nossa frente, era fantástica e enorme. Quando ia para falar, o Harry abraçou-me por trás pousando o queixo sobre o meu ombro direito. – Gostas? – dei-lhe um beijo super fofo na face antes de lhe responder

- Eu amo mas ainda não sei onde estou… - ele sorriu para mim e não disse mais nada. Como aquele rapaz adorava ver-me ansiosa. Dirigiu-se até ao porta bagagens e começou a tirar as nossas malas e a leva-las para o interior da casa. Não tinha ideia de que horas é que eram mas já estava a amanhecer. Fiquei enrolada na manta a ver a paisagem enquanto o Harry continuava a levar as coisas para dentro. Não fazia a mínima ideia de onde pudesse estar, a única coisa que tinha a certeza é que era um local gelado. O Harry assim que acabou veio novamente ter comigo tirando-me a manta de cima de mim. – Então?! Estou com frio… - pôs a manta por cima dele sem se importar com o que tinha dito mas depois abriu os braços para que o abraçasse e assim colocar a manta sobre mim também. – és muito esperto és… - acabei por dizer após voltar a sentir o quentinho da manta e do corpo dele. Os seus lábios vieram ao encontro da minha testa depositando um beijo suave.   

- Eu sei que sou… - mantive-me em silencio enquanto me deliciava com todos aqueles pequenos pormenores. O Harry era uma pessoa incrivelmente carinhosa o que me deixava constantemente nas nuvens. Ele tinha a capacidade de me surpreender todos os dias e a forma como me tratava fazia-me apaixonar por ele diariamente. – Eu vinha para aqui com a minha família todos os anos. É um local bastante calmo e acolhedor. Achei que era o que precisávamos, um tempo para namorarmos longe dos olhares curiosos.

- E achaste muito bem… - respondi-lhe sem tirar a minha cabeça junto do seu peito – amo-te muito sabias? – encarei-o e pude ver os seus olhos brilharem como nunca. Sorri genuinamente quando os meus lábios foram envolvidos pelos dele como sempre o fazia.

- Vamos para dentro? Não quero que geles…

- Sim! – proferi rapidamente. Assim que entramos dentro de casa a minha reação foi como se fosse uma criança quando recebe um presente novo. Estava completamente encantada com o interior da habitação embora naquele momento estivesse gelada. – em que quarto é que vamos ficar? – perguntei abrindo algumas portas do andar de cima

- Este é o quarto maior… - mostrou-me um quarto bastante grande e com uma cama igualmente enorme. O quarto também tinha uma casa de banho privativa mas não era o que realmente queria.

- E onde é que costumavas ficar? – saímos daquele quarto e caminhamos pelo corredor até parar na última porta. Não era de todo um quarto grande mas tinha um ar bastante acolhedor. Era mesmo a cara do Harry e talvez por isso tenha achado que aquele era o melhor quarto – Este é perfeito. Por mim ficávamos aqui… - informei-o enquanto dava uma volta pelo quarto   

- Tens a certeza?

- Absoluta! – novamente aquele sorriso aflorou-lhe no rosto. Como é que conseguia resistir aquilo? Era impossível! Cheguei-me junto dele e roubei-lhe um beijo rápido – Agora quero acender a lareira porque estou a morrer de frio… - ao mesmo tempo que me dirigia para fora do quarto mas fui travada pelo seu braço que me puxou novamente para junto dele

- Começo a achar que não te aqueço o suficiente, andas cheia de frio…

- És tão parvo às vezes! – descemos até ao piso inferior e enquanto acendia a lareira, o Harry foi ligar a água, a luz, o gás e outras coisas habituais quando se chega a uma casa que não é habitada durante a maior parte do tempo. Depois de tudo ligada estivemos a fazer tempo para que pudéssemos ir à vila para fazer as compras já que o frigorífico se encontrava vazio.

(…)

A vila era bastante pequena, por isso o Harry deixou o carro estacionado logo no início e fomos a pé fazer as compras. À medida que íamos andando ele ia contando várias histórias sobre a sua infância. Notava-se que aquele lugar lhe trazia muito boas recordações o que me deixava ainda mais feliz por me ter trazido. Tivemos que parar algumas vezes pois passavam por nós pessoas conhecidas dele que metiam conversa. O mais estranho é que me olhavam de uma maneira esquisita sempre que ele dizia que era namorada dele. Fiquei sem saber se aquilo era bom ou mau.

Entramos finalmente na mercearia e rapidamente chamou pelo nome de uma senhora. Ela apareceu por detrás de uma porta e assim que viu o Harry fez uma festa, sem exageros. Quase que podia ficar com ciúmes mas a senhora já devia ter os seus sessenta anos. Agarrou entusiasticamente as bochechas do Harry fazendo-me rir e depois encheu-o de beijos. Após lhe ter dito que estava mais magro e que não podia estar sempre a cantar também tinha que comer, é que dirigiu o olhar para mim.   

- Quem é esta menina tão bonita? – o sangue aflorou nas minhas bochechas sem conseguir evitar – é a tua namorada?

- Sim, é a minha namorada. É a Mia… - a senhora voltou a olhar do mesmo jeito que as restantes pessoas anteriormente. Definitivamente aquilo era muito mas muito estranho. Ele começou a fazer as compras e por isso ia ajuda-lo mas não me deixou. Acabei por ficar ao lado da dona da mercearia e fiquei a saber algumas coisas engraçadas sobre o Harry quando era pequeno. Ele reclamava e barafustava para que a senhora não contasse mais nada vergonhoso mas ela continuava. Adorei saber certas coisas, iriam-me dar imenso jeito para o futuro, mas o Harry ficou meio amuado.

- A menina deve ser muito especial… - fiquei sem saber o porquê da senhora me ter dito tal coisa. A minha expressão deve ter mostrado que não tinha percebido e então concluiu – O Harry sempre dissera que a rapariga que trouxesse aqui é porque era com quem queria casar. – um friozinho na barriga apareceu fazendo-me arrepiar a alma. A ideia de passar o resto dos meus dias com o Harry alegrava-me mas também me deixava ainda mais insegura.

- A sério? – a senhora apenas abanou assertivamente com a cabeça com um sorriso no rosto. Olhei para ele que se encontrava a pegar nalgumas coisas e um sorriso parvo aflorou no meu rosto, era inevitável. Decidi então brincar com a situação – Harry, vais-me pedir em casamento? – assim que terminei a pergunta, tudo o que ele tinha na mão foi parar ao chão. Ele tinha acabado de ficar completamente vermelho e olhava-me estupefacto.

- Onde foste tirar essa ideia? – ele estava visivelmente encavacado o que fez com que brincasse mais um pouco

- O quê? Não queres casar comigo? Não queres passar o resto dos teus dias comigo? Já não gostas de mim? Já não me amas? – exclamei fazendo um enorme teatro. Ele chegou-se junto a mim preocupadíssimo, tinha acreditado por completo em todas as minhas palavras.

- Claro que te amo Mia. Compreendeste mal, claro que quero casar contigo, se quiseres podemos faze-lo já amanha, ou até mesmo hoje! Eu amo-te… - a senhora começou a rir do ar quase que desesperado do Harry o que me fez também desmanchar a rir – Não acredito que estavas a brincar…

- Desculpa, mas não resisti! – ele virou costas chateado e por isso fui ter com ele – Não vais ficar chateado comigo por causa disto, pois não? – ele nada disse e continuava a arrumar aquilo que tinha deixado cair ao chão – Sabes, gostei de saber que se fosse preciso casavas comigo hoje. Nem imaginas o quanto isso significa para mim e nem imaginas o quanto o meu coração acelerou nesse preciso momento. – ele finalmente voltou a atenção para mim e sorriu

- Queres-me aturar todos os dias? – perguntou-me com aquele brilhozinho nos olhos

- Absolutamente. – era uma das poucas coisas que tinha tantas certezas.   

(…)

- Vá, podes ir dormir enquanto trato do nosso almoço! – exclamei enquanto começava a colocar as compras nos armários. – Precisas de dormir…deves estar bastante cansado.

- Tens a certeza? Não vais pegar fogo à cozinha? – eu sei que era quase um “desastre” na cozinha mas não era preciso exagerar. Conseguia desenrascar-me minimamente.

- Que piada menino Harry! – resmunguei – Agora, a sério, precisas de dormir senão daqui a pouco não te aguentas de pé.

- Esta bem, mas preciso que me leves até ao quarto, tenho medo de ir sozinho. – não sabia se haveria de rir ou ficar embasbacada a olhar para ele. Ele fazia aquela carinha doce de menino.

- Really?! – ele esticou o braço na minha direção mostrando que estava mesmo a falar a sério. Queria mesmo que fosse com ele até ao quarto. Dei-lhe a mão enquanto esboçava um sorriso – Só tu mesmo! Se não existisses tinhas que ser inventado.

Subimos até ao quarto de mão dada. Não conseguia descrever a maravilhosa sensação que isso me provocava, como um simples gesto conseguia pôr o meu coração a tremelicar. Tudo se encaixava na perfeição. Assim que chegamos ao quarto, ele despiu-se mesmo á minha frente ficando apenas de bóxeres e entrou para o meio dos lençóis e cobertores. Ainda fui buscar outro de dentro do armário para o caso de ele ainda ter frio. Sentei-me à beira dele e fez questão de rapidamente colocar a sua cabeça sobre o meu colo. Com a minha mão direita comecei a mexer nos seus inúmeros caracóis, brincava com eles. Enquanto que a outra estava entrelaçada na mão do Harry. Em poucos minutos já ouvia a respiração pesada do Harry, sinal de que já estaria a dormir, estava mesmo bastante cansado. Tirei a sua cabeça de cima do meu colo e pousei-a em cima da almofada. Desentrelacei os meus dedos dos dele e fiquei calmamente a mira-lo durante largos minutos. Nova Iorque, quatro anos… Não queria deixa-lo e muito menos perde-lo. Precisava dele para que a minha vida fizesse algum sentido. Precisava dele para continuar a sorrir.

Juntei os meus lábios aos dele sem o fazer acordar e levantei-me da cama. Saí tentando fazer o menor barulho para não o acordar e fui até á sala. Pelo caminho peguei no meu portátil e sentei-me no sofá bem em frente à lareira acesa com a manta sobre as pernas e o portátil em cima. Havia uma conversa inacabada entre mim e a Nicole e mais do que tudo, precisava das suas palavras para me tirar daquela teia de dúvidas.

- Bom dia!!! – exclamei assim que a imagem dela apareceu no ecrã do meu portátil. Antes de me falar, pela sua expressão já percebia que não estava de bom humor.

- Não devias estar a aproveitar essa alegria toda pela manhã para estares com o Harry em vez de me estares a chatear? – devia jogar no euromilhões, aquela miúda não conseguia disfarçar o mau humor.

- Que bom humor! – ironizei – Não, o Harry está a dormir e daqui a pouco vou começar a preparar o almoço.   

- Preparar o almoço?! Por favor, não mates o Harry! – exclamou num tom visivelmente dramático

- Tu também?! – ela apenas sorriu. Ficamos as duas a olhar uma para a outra através do ecrã do portátil. Percebia-se que ela queria muito falar sobre o assunto “Nova Iorque” mas não me queria, de todo, pressionar. Manteve-se em silencio durante bastante tempo até que tive coragem para dizer alguma coisa.

- Tenho de lhe contar não tenho? – não foi preciso ela responder porque notava-se na expressão facial dela qual era a sua opinião – só não o quero perder, percebes?

- Claro que percebo, Mia. É perfeitamente normal teres medo de perder a pessoa que amas. Seria anormal era se não te importasses com o que ele pensa ou o que ele sente. O que não pode acontecer é o medo que sentes seja superior ao que está certo. – um silencio instalou-se, ela queria fazer-me reflectir sobre as palavras dela – Mia, sei que te custou muito teres tomado aquela decisão há três anos e por isso mesmo não podes voltar a fazer o mesmo. Lembra-te, por favor, do que o Harry te disse, ele apoia-te incondicionalmente. Ele não merece que lhe escondas algo tão importante como o teu futuro, o teu sonho! E mesmo que não entres sabes tão bem como eu que ele ficará zangado se souber que não lhe contaste! – ela voltou a fazer uma pausa e como viu que não ia dizer nada, continuou – independentemente do que decidires, estou aqui para ti, sempre.

- Obrigada… - foi a única coisa que consegui pronunciar. Ela tinha razão, mesmo que não entrasse, ele tinha o direito de saber. Não lhe podia ocultar tal coisa.

(…)

Estava concentrada a fazer o almoço que nem dei pela entrada do Harry na cozinha. Só dei pela presença dele assim que me agarrou por trás com o corpo visivelmente molhado. Arrepiei-me dos pés à cabeça assim que os seus lábios quentes e molhados tocaram na pele sensível do meu pescoço.

- Harry… - foi a única coisa que consegui pronunciar decentemente. Os seus braços fizeram-me rodar ficando de frente para ele, verificando mais uma vez que o verde estonteante dos seus olhos provocava-me um friozinho na barriga. O cabelo molhado sobre a sua face dava-lhe um ar ainda mais irresistível. Aquele sorriso, podia já ter visto milhares deles mas nenhum se comparava ao dele, nenhum era tão perfeito como o dele. De um momento para o outro deixei de sentir as mãos dele na minha cintura e apoiou-as na banca da cozinha. Os nossos olhares tinham-se cruzado e ficara presa a ele. Aproximou-se inclinando lentamente a cabeça em direcção à minha sem nunca deixar de me olhar. Mordia o lábio inferior deixando-me ainda mais vulnerável. Conseguia sentir a sua respiração cada vez mais perto da minha até que se misturaram. O nariz dele tocou no meu e quando me chegava para unir de uma vez os nossos lábios ele desviou-se.

- Cheira bem… - trinquei o lábio inferior em sinal de frustração. Ele não me podia fazer tal coisa, o meu coração não aguentava. – não destruíste a cozinha!

- Estúpido! – proferi enquanto colocava as minhas mãos sobre o seu peito nu e o empurrava para longe de mim – Odeio-te…

- Eu também te amo muito… - enquanto colocava de novo as mãos sobre a minha cintura puxando-me para junto dele. Os nossos lábios juntaram-se finalmente e embora tenha tentado não corresponder ao beijo, acabei por me deixar levar.

(…)

Tínhamos passado a tarde inteira em casa e eu nem o pé pus fora de casa. Não fizemos nada, apenas ficamos os dois enroscados numa manta em frente à lareira. Apenas se ouvia o barulho da lenha a arder lentamente. Haviam momentos em que não eram precisas palavras e aquele era um desses momentos. Passei o tempo a receber carinhos por parte dele que me deliciou por completo.

Depois de jantarmos decidi finalmente contar-lhe sobre o curso. Tinha que o fazer, sabia que se ele descobrisse que não lhe tinha contado ficaria ainda mais chateado.

- Precisamos de falar… - nunca a minha voz tinha soado tão intermitente. Ele percebeu de imediato que o assunto era sério e por isso sentou-se ao meu lado no sofá. Não conseguia encara-lo, não conseguia olha-lo nos olhos. Mexia descoordenadamente com as mãos tentando me acalmar. Respirei fundo uma data de vezes até arranjar a coragem necessária para falar. – Antes de vir, como sabes, estive a estagiar numa galeria onde aperfeiçoei o que sabia sobre fotografia. Nos três anos em que lá estive apercebi-me que era o que queria fazer para o resto da minha vida. Era o que mais gostava de fazer sem dúvida nenhuma. – levantei-me do sofá, já não conseguia estar mais sentada. Dirigi a minha atenção para a chuva que caía lá fora e nunca para o Harry – Quando decidi voltar para aqui não queria vir presa a nada e por isso decidi deixar a fotografia um pouco de parte para ter a certeza do meu próximo passo. O problema é que a minha coordenadora decidiu que o meu futuro passava por Nova Iorque e mandou uma candidatura em meu nome para uma das escolas mais conceituadas dos EUA. – tive que parar para respirar decentemente, parecia que não havia ar suficientemente para fazer bater o coração em condições – Sim, fiquei chateada e muito mas no fundo, bem lá no fundo, era o que mais queria fazer, só me faltava a coragem. Quando fui as duas semanas com vocês não imaginas o quanto amei a experiência. Adorei por completo. Os resultados saem na próxima semana e se entrar, o curso será de quatro anos a começar no início de Setembro. Agora vem a parte contraditória, a de que não te quero deixar novamente, a parte em que te amo mais do que tudo, a parte em que o teu silencio durante esta conversa me está a matar. – um silencio ensurdecedor instalou-se na sala. Ele tinha baixado a cabeça e por isso não conseguia perceber pela sua expressão o que estaria a pensar – Diz alguma coisa… - pedi quase a suplicar

- Desculpa mas neste momento não consigo dizer nada… - as palavras dele caíram que nem pedras no meu coração. Quando se levantou do sofá dirigindo-se para a parte de superior da casa sem pronunciar mais nenhuma palavra, senti um enorme aperto no coração, uma dor inexplicável.   


Peço desculpa pela demora mas com os trabalhos da escola tenho tido muito pouco tempo para escrever.
Espero que gostem do capítulo e já sabem, deixem as vossas opiniões. É bom saber o que estão a achar da história.

beijinhos

Dri